domingo, 18 de outubro de 2009

Placebo e Música

A New Scientist publicou uma matéria bem detalhada com as descobertas recentes sobre o funcionamento do efeito placebo, vale a pena conferir.

E, pra não perder o hábito, um vídeo musical. Com vocês, o coral esloveno Perpetuum Jazzile cantando "Mas Que Nada", de Jorge Ben.


Na Rede (3)

A Volkswagen lançou o projeto The Fun Theory (A Teoria da Diversão) para mostrar que o jeito mais fácil de provocar mudanças comportamentais positivas é pelo entretenimento. Eles já divulgaram três vídeos (também disponíveis num canal do YouTube) que colocam a teoria em prática: uma escada transformada em piano para estimular as pessoas a deixar a escada-rolante de lado, um coletor de garrafas de vidro para reciclagem que também é um jogo, e o meu favorito (abaixo): a lata de lixo mais funda do mundo :-). Quem tiver boas ideias pode se candidatar ao Fun Theory Award - só me pergunto se eles aceitariam ideias que estimulem as pessoas a trocarem seus carros pelo transporte coletivo... (Dica da Márcia)




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Esta semana, pesquisadores alemães começaram a desvendar um dos mistérios ainda não explicados pela ciência: o efeito placebo. Eles reuniram quinze voluntários saudáveis e anunciaram que aplicariam um creme anestésico em uma de suas mãos e um creme comum na outra. Alguns, porém, só receberam o creme comum. Após a aplicação dos cremes, os voluntários tiveram as mãos espetadas com agulhas. Não só os voluntários que acreditavam ter suas mãos anestesiadas (apesar de só terem recebido o creme comum) tiveram uma redução de 25% na dor, eles também apresentaram redução na atividade do trecho da medula espinhal responsável pelo envio de sinais de dor ao cérebro. Os cientistas sugerem que isto acontece porque, quando os pacientes esperam que um tratamento seja efetivo, a área do cérebro responsável pelo controle da dor é ativada, liberando endorfinas. Estas endorfinas, por sua vez, "instruem" a medula espinhal a suprimir os sinais de dor, fazendo com que os pacientes se sintam bem independente de qualquer efeito direto do tratamento. Não é fascinante? (via Veja e Times Online)

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Fascinante também, além de hipnótico e hilário, é este vídeo japonês (via Videogum):


segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Notas rápidas e um convite

Caríssimos: o Coral ANSEncanta vai participar da Festa do Dia das Crianças da Sociedade dos Amigos da Pediatria do Hospital Gaffrée e Guinle (SAPE), que acontece sábado que vem, dia 17 de outubro, no Museu Militar Conde de Linhares. É a segunda apresentação pública do Coral, e a primeira desde que eu comecei a participar dele. O repertório inclui California Dreaming e Esperando na Janela, entre outras. Só o horário desanima: 9h da manhã... Nem minha mãe vai :( Mas fica o convite, caso alguém se anime a madrugar.

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A Conrad lança este mês a versão em quadrinhos do livro de Gênesis ilustrada por Robert Crumb a partir da tradução do Robert Alter. Já está na minha lista de desejos! (Via Carta Capital)

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Saiu no mês passado o site brasileiro do Bookcrossing (que anda parado aqui no Rio). Ficou muito legal, e é totalmente integrado com o site oficial - minha estante, que também anda parada, fica aqui.

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Pra quem gosta de arte urbana (ou de coisas bacanas em geral), este vídeo vale a pena (Via BizarroBlog):




E tá bom pra semana, né?

Tubo de Ensaio Teológico

Outro dia, numa das minhas aulas, foi apresentada a seguinte definição de Teologia: "Sistema de nossos conhecimentos sobre o Ser Supremo". E eu pensei: oras, se Teologia é isso, não é à toa que ela parece tão distante do cotidiano e da prática. Mais: na minha visão, essa definição de Teologia engessa o trabalho dos teólogos. Se o objeto da Teologia é o "Ser Supremo", estamos num buraco sem saída: nosso objeto é, por definição, incompreensível. Pelo menos na tradição cristã, Deus é o "totalmente outro", o insondável, o que não pode ser conhecido. Voltamos os olhos para o céu, já sabendo que nunca poderemos chegar a completar a tarefa - simplesmente porque ela não pode ser completada.

Ah, sim, temos a Revelação registrada na Bíblia, uma fonte segura para o trabalho teológico. O problema é que a Bíblia não é um tratado teológico sistematizado. Ela se parece mais com uma biblioteca, uma coleção de textos de diferentes origens, escritos por diferentes autores, com diferentes propósitos, para diferentes comunidades, usando todo tipo de gênero literário - da narrativa à lei, de cartas a poemas. Não é de se surpreender que doutrinas muito diversas entre si possam ostentar o título de "bíblicas". Quem quiser pode encontrar, na mesma Bíblia, textos para sustentar posições totalmente opostas. Que isso aconteça com as ideias sobre quando (ou se) acontecerá o arrebatamento, tudo bem. Mas e quanto ao calvinismo e ao arminianismo, por exemplo? Um Deus que predetermina todos os acontecimentos, inclusive quem será salvo ou não, é radicalmente diferente de um Deus que concede a suas criaturas o livre-arbítrio para aceitar ou não sua oferta de salvação.

Definitivamente, aquela definição de Teologia não me serve. Pode até ser etimologicamente correta (Theos = Deus, Logos = palavra, estudo --> Teologia = Estudo sobre Deus), mas eu sou bibliotecária e estou acostumada a superar etimologias (Biblio = livro, Theke = caixa, estante --> Biblioteca = caixa de livros). Por outro lado, ainda estou no meio da minha graduação, e seria pretensioso tentar redefinir toda a Teologia, jogando fora o trabalho de séculos (milênios, até) dos que vieram antes de mim. Só preciso de uma definição possível, uma hipótese de trabalho para seguir em frente sabendo que o próprio trabalho deverá trazer elementos que modifiquem, ampliem ou reduzam o escopo dessa definição.

Como teóloga, quero tirar os olhos do céu e trazê-los para a terra. Não quero produzir um sistema de conhecimentos sobre um ser supremo que é, por definição, inatingível. Quero, sim, compreender as ideias humanas sobre o divino, o sagrado, o mistério; e verificar como estas ideias afetam os relacionamentos entre os seres humanos.

Eu adoraria ouvir seus comentários: para vocês (especialmente os não-teólogos), que Teologia é possível?

Carta à empresa Metrô Rio

Texto de e-mail que acabo de enviar à empresa Metrô Rio, reclamando do novo sistema de cartão eletrônico para as integrações expressas:

Gostaria de registrar minha insatisfação com o novo sistema cartão eletrônico para a integração Ônibus/Metrô Expresso. Moro em Botafogo, nas proximidades do Rio Sul, e estudo à noite na Tijuca. Uso diariamente a linha 511A, que liga a estação de Botafogo à Urca. Antes da implantação do sistema eletrônico, já era imposta a limitação na venda dos bilhetes expressos, forçando os usuários dessas integrações a ir diariamente à bilheteria. Como o intervalo entre os trens e ônibus expressos é maior durante a noite, muitas vezes a ida à bilheteria significava perder o trem e chegar em casa mais tarde.

Ao contrário do que dizem os cartazes de propaganda, a vida do cliente não ficou mais prática com a implantação dos cartões eletrônicos. Na verdade, vocês conseguiram piorar um sistema que já não era ideal. A limitação de uso em duas horas impede de vez a prática de comprar bilhetes antecipadamente (na hora do almoço, por exemplo), única forma de tentar poupar tempo à noite.

O pior de tudo é que a limitação de tempo não faz o menor sentido: o motorista que recebe os cartões no ônibus expresso não tem qualquer forma de verificar há quanto tempo o bilhete foi comprado. Fica a impressão de que o novo sistema não foi pensado para facilitar a vida dos usuários, mas a da própria empresa.
Veremos se terei resposta... As integrações expressas são uma verdadeira mão-na-roda: em vez de pagar 2,80 pelo metrô da Saens Peña a Botafogo, e mais 2,20 pelo ônibus até a minha casa (ou de me arriscar pegando um dos ônibus da Tijuca a Botafogo, passando por uma série de locais de risco), pago 3,60 pela integração. No entanto, praticamente todas as praticidades que vêm sido oferecidas aos usuários de ônibus e metrô passam longe da gente. O Vale-Transporte Eletrônico seria a única opção para não perder dinheiro, mas achei o site da Fetranspor tão confuso que desisti... E afinal, o tal do Bilhete Único sai ou não sai?

domingo, 11 de outubro de 2009

Preciosas Ilusões...



A moça é a cantora e compositora Regina Spektor. A música é Eet, de Far, seu último álbum. E a razão para eu postar o vídeo são estes versos:
It's like forgetting the words to your favorite song.
You can't believe it; you were always singing along.
It was so easy and the words so sweet.
You can't remember; you try to move your feet.
It was so easy and the words so sweet.
You can't remember; you try to feel the beat...
Me lembro de quando ouvi esta música na minha última viagem a Belo Horizonte, sozinha no ônibus que me levou de Confins à Pampulha. Não foi a primeira vez que ouvi, mas foi só lá que me dei conta do quanto esta música tem a ver com o que estou vivendo. Hoje encontrei o vídeo e o sentimento voltou. É mesmo como esquecer a letra da minha música favorita, que eu sempre cantava junto. Era tão fácil, e as palavras tão doces... Mas não consigo me lembrar, por mais que tente mexer os pés e sentir a batida...

Sim, era tão fácil, tão doce, fechar os olhos e cantar junto... Mas agora meus pés parecem ter esquecido a batida (ok, metáfora ruim: sempre tive dois pés esquerdos, rs), as palavras fogem da língua, as doutrinas escapam pelos meus dedos. E eu sinto, ao mesmo tempo, alívio e saudade.

Alívio, porque as doutrinas e tradições eram um peso. Não que eu me sentisse oprimida ou amordaçada por elas - cresci num ambiente nada fundamentalista, e aprendi rápido a colocar em perspectiva comentários como "Ouvir música do mundo/Faltar a Igreja/etc, etc, etc é pecado". E sempre fui uma "boa menina", em geral, sem grandes rebeldias adolescentes.

Não, não sou um dos muitos feridos em nome de Deus. Mas as doutrinas eram os óculos que eu usava para ler a Bíblia e o mundo. Eu podia até perceber que eles não funcionavam muito bem para ler o mundo, mas foi preciso ir ao Seminário para que caísse a ficha de que os óculos também não serviam para ler a Bíblia.

Me disseram que a Bíblia É a Palavra de Deus, que era absurdo dizer que ela "contém" a Palavra. E eu pensava, quietinha comigo, sem ousar dizer as palavras: "Mas peraí, pra que Deus ia querer aquele monte de genealogias em 1Crônicas??" Bobagens de adolescente, talvez. Mas comecei a estudar Teologia, e conhecer uma outra perspectiva sobre a Bíblia. Livre do peso de ser "A Palavra de Deus", ela já não se apresenta a mim como um livro narrando uma única história (o plano da salvação), mas uma coletânea de textos que dialogam e combatem entre si, testemunhos das crenças, dúvidas, lutas e paixões de pessoas que viveram num mundo muito diferente do meu, mas que, como eu, amaram, choraram, odiaram, cantaram, riram... Pra mim, a Bíblia só ganha com isso. E meus olhos brilham ao vê-la diante de mim, pedindo para ser explorada - não para encontrar nela as doutrinas que eu já tinha, mas para ouvir vozes de um passado tão distante que só pode chegar até mim em fragmentos que eu provavelmente nunca serei capaz de juntar num quadro único e coerente.

Mas tenho saudades... Saudades do tempo em que eu sabia direitinho a letra da música, saudades das minhas certezas, saudades dos meus mitos. Não, não quero abandoná-los todos, não agora, mas eles me escapam. E sinto, desde já, saudades destas preciosas ilusões, que não me deixaram na mão quando eu estava indefesa. Abandoná-las é como dizer adeus a amigos de infância...

but this won't work now the way it once did
and I won't keep it up even though I would love to
once I know who I'm not then I'll know who I am
but I know I won't keep on playing the victim

these precious illusions in my head did not let me down when I was defenseless
and parting with them is like parting with invisible best friends
<...>
and though I know who I'm not I still don't know who I am
but I know I won't keep on playing the victim

these precious illusions in my head did not let me down when I was a kid
and parting with them is like parting with a childhood best friend
-------
P.S.: Enquanto eu procurava o vídeo desta última música, encontrei este cover de My Humps, do Black Eyed Peas. Perfeito pra colocar um tom mais alegre neste post :-)

Did I Step On Your Trumpet?



Com vocês, Danielson - uma das bandas cristãs mais bacanas que eu conheço. A letra completa da música está no site.

"Be just who you're made to be / Papa is so mighty pleased with thee"

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