domingo, 9 de maio de 2010

Um pouco de música, arte e ciência

Mais um final de semana, mais uma chance de escrever algum post original perdida. Acho que é hora de largar de mão a preguiça e diminuir o número de feeds no meu Google Reader... Mas, afinal de contas, é Dia das Mães - vocês não queriam que eu arranjasse tempo pra escrever com a casa cheia, macarronada por almoço e bolo de chocolate de sobremesa, né? Então, que tal mais uma rodada de links aleatórios?

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Neste artigo do site Cracked.com, por exemplo, você pode conhecer 5 artistas/grupos famosos que roubaram ideias de outros artistas/grupos. Led Zeppelin, Deep Purple, Black Eyed Peas e Metallica são alguns dos acusados na lista, que deixou de fora o caso Jorge Ben(jor) vs. Rod Stewart.

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Quer ver artistas mais originais? Que tal o projeto 6emeia? (dica do Moreno).

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Eu já mencionei aqui minha nova mania: os podcasts. Além do já citado Tweet Me Harder, não perco mais um episódio de Radiolab, programa de Ciências de uma rádio pública nova-iorquina (isto ainda tem hífen?). É quase um Mundo de Beakman para adultos: temas científicos como memória, demência e os limites do corpo e do conhecimento humano (e até bandas que criam seus próprios instrumentos) são apresentados de forma simples e divertida, mas sem desprezar a inteligência do ouvinte. Eu era fã do Beakman (nerd, eu? Magina!), agora sou fã do Jad Abumrad.

No episódio sobre Limites, duas histórias me fascinaram. A primeira é a do russo Solomon Shereshevsky, ou Mr. S., um homem capaz de lembrar-se de quase tudo: de sequências numéricas ou silábicas aleatórias ao Inferno de Dante em italiano, língua que ele mesmo não falava (sim, parece o conto do Borges "Funes, o Memorioso" - você pode ler um artigo sobre isso aqui). Parece ótimo? O problema é que as lembranças eram tantas que qualquer imagem trazia uma torrente de memórias... Imagine se, toda vez que você visse um cachorro, você lembrasse de todos os outros cachorros que já viu, e de todas as vezes em que ouviu alguém chamando outra pessoa de cachorro, e de todos os cachorros-quentes que já comeu... É por aí. O médico A.R. Luria, que acompanhou o caso, registrou tudo no livro The Mind of a Mnemonist (disponível também no Google Books).

A outra descoberta fascinante deste episódio foi o software Eureqa (mais sobre como ele funciona aqui). Se você leu O Guia dos Mochileiros das Galáxias, basta dizer que este programa seria basicamente a versão "em carne e osso" do Pensador Profundo, o supercomputador construído para responder à pergunta fundamental sobre a vida, o universo e tudo o mais. Criado por Michael Schmidt e Hold Lipson, o Eureqa foi capaz de deduzir a 2ª Lei do Movimento de Newton (F=ma, lembra?) em menos de um dia, com base apenas na observação de um pêndulo duplo. A melhor parte é que o Eureqa está disponível gratuitamente para download. Não é sensacional este mundo conectado?

A parte curiosa/assustadora? Exatamente como o Pensador Profundo, o Eureqa é capaz de identificar equações que nós mesmos não somos capazes de compreender. Foi o que aconteceu com o biólogo Gurol Suel: ele usou o Eureqa para analisar processos de regulação genética em células, e conseguiu equações que previam esses processos. Mas ele ainda não conseguiu entender porquê as equações estão certas... Será possível que a lógica de alguns processos biológicos seja observável, mas não explicável? Ou será que, com as equações na mão, é só questão de tempo até se chegar ao porquê? Qual o limite para a nossa capacidade de explicar a vida, o universo e tudo o mais?

domingo, 2 de maio de 2010

Tentativa e Erro

Isto é sensacional:


Não sei como eu pude passar tanto tempo sem saber da existência da Portsmouth Sinfonia, a orquestra responsável por esta interpretação brilhante da introdução de Also sprach Zarathustra. A Portsmouth Sinfonia nasceu em 1970, fundada por estudantes da Portsmouth School of Art, na Inglaterra. Seria mais uma orquestra estudantil, se não fosse pelo critério de entrada: os membros não podiam ser músicos - ou, se fossem músicos, tinham que tocar um instrumento que nunca tivessem tocado antes. Não valia tocar mal de propósito: cada um deles devia se esforçar para acertar. Em 10 anos de atuação (a última apresentação do grupo foi em 1979), se tornaram um fenômeno cultural e gravaram 5 álbuns. O repertório inclui clássicos como a abertura de Guilherme Tell, No Hall do Rei da Montanha (do balé Peer Gynt, de Grieg), o coro Aleluia do Messias de Händel e a Dança da Fada Açucarada d'O Quebra-Nozes de Tchaikovsky; assim como músicas mais populares como (I Can't Get No) Satisfaction dos Rolling Stones e God Only Knows dos Beach Boys.

Ouvir a Portsmouth Sinfonia me fez lembrar de Florence Foster Jenkins, uma das piores sopranos do mundo (ouça, por sua própria conta e risco, as versões dela para The Laughing Song e Queen of Night). Conheci a história dela na peça Gloriosa, estrelada por Marília Pêra, que esteve em cartaz no Rio no começo do ano passado. Com dinheiro suficiente para bancar seus próprios álbuns e recitais, Florence acreditava sinceramente em seu talento. Chegou a se apresentar no Carnegie Hall, com casa lotada. Claro que a maioria das pessoas na plateia de suas apresentações estava lá para rir da falta de ritmo, afinação e senso de ridículo (ela gostava de usar figurinos exóticos, que podiam incluir asas) de Florence. Mas ela não se abalava: "dizem que eu não posso cantar, mas ninguém pode dizer que eu não canto".

Dizem que é melhor tentar e perder do que nunca ter tentado. Dizem que o importante é fazer o que o coração manda. A verdade é que, não importa o quanto você se dedique a algo, nem o quanto você goste de algo, você pode, sim, falhar miseravelmente. Fica a pergunta: o importante é acertar ou se divertir tentando?

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