domingo, 20 de julho de 2008

Eu vi: Anima Mundi

O Anima Mundi é um dos meus eventos favoritos, daqueles que faço de tudo para não deixar de ir (os outros são o Festival do Rio, a Bienal do Livro e a Folle Journée, mas sempre cabe mais um). Este ano, fui a 5 sessões, no Odeon, na Praça Animada e no Teatro II do CCBB. Sempre tem aqueles filmes meia-boca, e outros difíceis de acompanhar ou simplesmente incompreensíveis, mas as pérolas - e sempre há pérolas! - fazem tudo valer a pena. Dos filmes que vi, meus favoritos foram:


  • Puppet / Patrick Smith - A frase inicial, de Freud ("O masoquista cria uma entidade separada para alcançar um nível repulsivo de auto-flagelação") já diz tudo. No filme, um rapaz cria um fantoche que começa a atacá-lo.
  • At the Quinte Hotel / Bruce Alcock - At the Quinte Hotel é um poema de Al Purdy (saiba mais e leia aqui). A animação é viajante como o poema.
  • A-Z / Sally Arthur - a aventura da Sra. P, que passou semanas se perdendo em Londres para criar um guia de ruas. Filme cheio de charme.
  • El Empleo / Santiago Bou Grasso - Simplesmente genial: num mundo muito parecido com o nosso, pessoas servem de mesas, cabides, cadeiras, carros etc.
  • KJFG No. 5 / Alexei Alexeev - Outro filminho de gênio: na floresta, o urso (baixo), o coelho (percussão) e o lobo (vocal) montam uma banda. Mas o caçador vem aí...
  • De Zwemles / Danny de Vent - filme lindinho sobre uma criança em sua primeira aula de natação.
  • La Maison en Petits Cubes / Kunio Kato - um senhor viúvo relembra a vida com sua esposa, num mundo em que as águas não param de subir. Fofo!
  • Key Lime Pie / Trevor Jimenez - animação noir sobre um homem capaz de tudo por um pedaço de torta de lima (limão?). Nota 10!
Além desses curtas, todos em competição, vi uma sessão especial dedicada à obra do argentino Juan Pablo Zaramella. Vale a pena conferir o trabalho dele no site oficial. Na sessão foram exibidos El Desafío a la Muerte, sobre um faquir; El Guante, em que um homem é atormentado por uma luva; El Espejo Tiene 1000 Caras, com três vinhetas divertidas feitas para a Nickelodeon; Sexteens, um vídeo bem-humorado sobre educação sexual; Lapsus, as trapalhadas de uma freira entre a "luz" e as "trevas" (a personagem, que só faz repetir "Oh my God" em diferentes entonações, é hilária) e o lindinho Viaje a Marte, sobre um menino que é levado pelo avô para conhecer aquele planeta. O cara é ótimo!

Eu, marginal

Marginal é quem está à margem, quem fica na beiradinha, tendo à frente as águas e atrás de si a terra, as árvores. Quem não se joga de cabeça, mas também não se afasta de vez. Quem não vai além da arrebentação, mas também não quer ficar na areia, lagarteando ao sol - e fica ali, brincando na espuma do mar.
Já faz alguns verões que notei esse medo de entrar de vez na água, vencendo as ondas pra flutuar onde o mar é mais tranqüilo. Não foi sempre assim: quando era mais nova, passava horas além da arrebentação, boiando, nadando, mergulhando, pulando... Agora, fico na beira, esperando alguma onda mais forte para pelo menos molhar os cabelos. Prudência que vem com a idade, talvez...
Mas foi só recentemente que me caiu a ficha: não é só na praia que eu sou marginal, é na vida. Na maioria dos círculos a que pertenço, sinto que estou longe do centro, na margem, na tangente. Não importa se estou com amigos antigos, irmãos de fé, parentes ou colegas de trabalho, a impressão é a mesma: de repente me sinto distante, como se aqueles velhos conhecidos fossem estranhos, como se ninguém realmente me conhecesse, como se a minha presença ali não fizesse qualquer diferença.
É raro me envolver de fato com alguém, a ponto de sentir falta da pessoa. Imagino que devo parecer fria, mas não sou uma pedra de gelo. Só tenho dificuldade para expressar o que sinto. Com alguns poucos amigos mais íntimos, me abro, choro junto, abraço, beijo. Mando e-mails e torpedos, chego até a ligar (bem) de vez em quando. Mesmo com alguns nem tão íntimos, troco abraços e confidências ocasionais. Mas corto laços com alguma facilidade, e nem é por mal. Simplesmente não me lembro de entrar em contato, e quando lembro penso que é tarde demais, que a hora é imprópria, e o tempo vai passando.
Sim, sou marginal. Não sei se por medo, desinteresse, preguiça, timidez, ou por uma combinação de tudo isso, meus relacionamentos, com raras exceções, não se aprofundam muito. E mesmo nessas "raras exceções", fico com a sensação de que tudo é frágil, que aquela intimidade pode se desfazer a qualquer momento. Difícil é vencer este sentimento...

sábado, 12 de julho de 2008

Teste...






Qual teólogo é você? (versão 0.1.2)
created with QuizFarm.com
You scored as Martinho Lutero

Você é Martinho Lutero.

Descrição na wikipedia:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Martinho_lutero


Martinho Lutero


83%

Friedrich Schleiermacher


83%

Anselmo


83%

Paul Tillich


75%

Karl Barth


58%

João Calvino


50%

Jurgen Moltmann


50%

Jonathan Edwards


42%

Santo Agostinho


42%

Charles Finney


33%

Rudolf Bultmann


25%


domingo, 6 de julho de 2008

Sobre o Tempo

Um dos textos da Bíblia que mais me desafia ultimamente é a passagem sobre o tempo em Eclesiastes 3.1-8:

Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu:
há tempo de nascer e tempo de morrer;
tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou;
tempo de matar e tempo de curar;
tempo de derribar e tempo de edificar;
tempo de chorar e tempo de rir;
tempo de prantear e tempo de saltar de alegria;
tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar pedras;
tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar;
tempo de buscar e tempo de perder;
tempo de guardar e tempo de deitar fora;
tempo de rasgar e tempo de coser;
tempo de estar calado e tempo de falar;
tempo de amar e tempo de aborrecer;
tempo de guerra e tempo de paz.

Quando lembro deste texto, a primeira coisa que me passa na cabeça é: Se é verdade que há tempo para todo propósito, onde foi parar o meu? Por que as horas parecem escapar dos meus dedos, como água, e o que sobra parece insuficiente para matar a sede? Agora mesmo, neste domingo à noite, bate o desânimo de ir para a cama e encarar outra semana num trabalho que me dá poucas alegrias e muitas decepções... Outro final de semana passou, e sinto que não o aproveitei tanto quanto gostaria/poderia. E olha que até que curti este domingo: ouvi Leonardo Boff na Igreja Cristã de Ipanema, almocei e fui à feira hippie com duas amigas que não via há tempos. Mas ainda fica o gosto de quero mais, mesmo sem saber o que é esse "mais" que tanta falta me tem feito.

Releio o texto de Eclesiastes e percebo suas marcações: há tempo para amar, mas também para odiar; há tempo para nascer e também para morrer. No corre-corre cotidiano, tudo também é marcado: hora de acordar, hora de almoçar, hora de voltar pra casa. No entanto, me parece que há uma diferença entre estas "horas" e aqueles "tempos". Nossas horas são para serem cumpridas, os tempos do pregador são para serem vividos e pensados. As horas se impõem, os tempos se apresentam. E, se prestamos muita atenção às horas, acabamos perdendo de vista os tempos: perdemos a época de plantar, choramos quando deveríamos rir, deixamos passar a oportunidade de abraçar.

Até aqui falei do dia-a-dia. Mas o texto de Eclesiastes também me lembra dos "tempos" da nossa vida, com seus altos e baixos, suas pequenas alegrias e grandes tristezas (e vice-versa), seus contratempos e boas surpresas. Já não sou mais criança, já saí da adolescência, mas ainda não consigo pensar em mim como adulta - fico naquele limbo da juventude. Já tenho meu emprego, já pago minhas contas, sou plenamente responsável pelos meus atos. O que falta para passar daqui para lá? E outras mil perguntas surgem: até quando continuar neste emprego? O que vou fazer depois do seminário? Será que o casamento é pra mim? Será que Deus tem um plano detalhado para a minha vida, ou será que estou construindo esse caminho a cada dia, com as minhas escolhas?

Não tenho as respostas, mas vou continuar procurando. Afinal, ainda há tempo...

----------------
Ouvindo: Bob Dylan - Father of Night
via FoxyTunes

Related Posts with Thumbnails
 
Creative Commons License
Notas de Pé de Iara VPS é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Compartilhamento pela mesma licença 3.0 Brasil.