sábado, 24 de julho de 2010

Notas Rápidas: Animações

Amanhã termina mais um Anima Mundi aqui no Rio - semana que vem começa o festival em São Paulo. Por enquanto, eu só vi a sessão Curtas 15 - vou ver se consigo ver mais amanhã... Dos que eu vi, meu favorito este ano é Pigeon: Impossible, de Lucas Martell. A melhor parte? Ele está disponível na íntegra no YouTube :-)



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Ainda no tema Anima Mundi, recentemente o Trevor Jimenez colocou no YouTube o noir Key Lime Pie, sobre um homem que precisa decidir entre a vida e um pedaço de torta (já falei sobre ele por aqui). Pena que não tem legendas, é pra quem está com o inglês em dia.



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Este aqui é um "clipe" de King Creole, do Elvis Presley, com "bonecos" de sombras (via Hello You Creatives):

Elvis Presley- King Creole from BillCanoni on Vimeo.


Para ver o Rei em pessoa cantando e balançando o topete, clique aqui.

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Pra terminar, mais uma do Blu (que já está virando figurinha fácil neste blog). São quase 10 minutos de grafites em paredes, carros, e até na areia, ganhando vida em stop motion. Mal dá pra imaginar o trabalho que deve ter dado fazer tudo isso, e o resultado é sensacional.



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E, pra terminar, uma boa notícia pra quem gostou de Bicicletas de Belleville: vem filme novo do Sylvain Chomet por aí! (via OsGemeos)


domingo, 27 de junho de 2010

Nota Rápida: Arte de/na rua (2)

Os grafiteiros Blu (que já apareceu aqui) e Os Gêmeos fizeram uma intervenção num prédio de Lisboa como parte do festival Crono:



O Blu incluiu em seu site um vídeo mostrando o detalhe dos olhos de um dos personagens: por sugestão dos Gêmeos, ele usou bolas soltas, que balançam com o vento.O efeito é ótimo.

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Os caras do Ok Go (que também já marcaram presença aqui) lançaram mais um clipe viral: End Love. Agora, eles brincam de manipular o tempo, comprimindo um dia de filmagem em meio segundo, ou esticando meio segundo em 16. E tudo isso em um único plano-sequência!



Quando é que esses caras vêm ao Brasil? Se eles forem tão divertidos no palco quanto são na web, um show deles deve ser uma experiência inesquecível...

Fragmentos de um discurso amoroso (II): Ausência, saudade, perdão

Na tentativa de terminar o "fichamento" do livro do Roland Barthes em um só post, acabei fazendo um amontoado de frases, sem discutir porque elas me chamaram a atenção. Agora, vou retomar algumas delas, antes de mostrar outros trechos do livro.


"Historicamente, o discurso da ausência é sustentado pela Mulher: a Mulher é sedentária, o Homem é caçador, viajante; a Mulher é fiel (ela espera), o homem é conquistador (navega e aborda). […] De onde resulta que todo homem que fala a ausência do outro, feminino se declara: esse homem que espera e sofre, está milagrosamente feminizado. Um homem não é feminizado por ser invertido sexualmente, mas por estar apaixonado." [p. 53]
Sobre este trecho, meu colega Harlyson comentou o seguinte:

"É o lado histórico que é abordado e justamente por isso Barthes tem razão. Se entendermos que o discurso feminino é o de ausência então qualquer discurso que fale da ausência, ainda mais como lamento é um discurso feminino.
Como homem é muito fácil perceber isso. Homens não podem falar palavras carinhosas à mulher quando estão na companhia de outros homens. Palavras de carinho são coisas de mulher! De igual modo não podem dizer que estão com saudades (discurso/lamento de ausência), pois são ridicularizados. Homem que é homem pode ter falta de sexo. Da namorada/noiva/esposa/mulher? Não! Afinal, sexo se pode conseguir com qualquer mulher e não implica sentimento. O sentimento é vetado ao homem. Homem não sente. E quando sente e espera e sofre a ausência da mulher amada, então não é mais homem. Se um homem sente saudades de uma mulher ele está sendo vulnerável e isso é inadmissível para o homem. Se sente saudades de outro homem (como amigo mesmo) é vulnerável da mesma forma..
Eis a resposta: Homens! Não sejam vulneráveis!
E por que ser vulnerável é entendido como coisa de mulher? E quem disse que sofrer é se vulnerável?"
Não sei se é tanto o lado histórico que Barthes aborda, acho que é mais o literário. Os exemplos são muitos: Penélope esperando pacientemente enquanto Ulisses é seduzido por sereias e feiticeiras, Solveig envelhecendo numa cabana enquanto Peer Gynt ganha o mundo (ganha um doce quem reconhecer esta referência sem clicar no link...), a Bela Adormecida esperando o beijo do amor verdadeiro, a Princesa Cogumelo (Peach?) esperando que o jogador consiga fazer o Mario passar de fase, derrotar o Bowser e salvá-la do castelo... E por aí vai. No fim, a gente sempre volta para o velho modelo do homem que parte para grandes aventuras, deixando uma mulher que espera ansiosamente o seu retorno - e, claro, estará sempre disposta a perdoar uma eventual traição... Homens são assim mesmo, né? Mas e se a mulher tentasse isso? E se Penélope, em vez de ficar costurando e descosturando a mesma manta por dias seguidos, se casasse com um de seus pretendentes? Será que Ulisses a perdoaria? Ou trataria de limpar sua honra, como um bom macho? Aliás, se "o sentimento é vetado ao homem", como diz o Harlyson, como seria possível a ele perdoar?

Um parêntese: a "mini-ópera" A Quick One, While He's Away, do The Who, brinca um pouco com esse padrão: é a mulher que cai em tentação enquanto o homem está longe, e é ele quem tem que perdoá-la (ouça/assista aqui, veja a letra e a tradução aqui). E um parêntese dentro do parêntese: essa é uma das minhas músicas favoritas! As seções com seus diferentes climas, as harmonias vocais, a bateria, o baixo, aquele coro catártico no final repetindo "You are forgiven"... Fantástica. Adoraria assistir a (melhor ainda, participar de) uma apresentação ao vivo dessa música.

Mas voltando ao discurso da ausência... O Barthes afirma que "Um homem não é feminizado por ser invertido sexualmente, mas por estar apaixonado". A paixão sensibiliza, fragiliza, feminiza. Mas isso não cria problemas só com os amigos: muitas mulheres vão correr (ou, no mínimo, estranhar) se o cara der sinais de que está apaixonado: "Ele fica me ligando/mandando mensagem toda hora, que cara carente!" A ironia é que, se ele não faz essas coisas, a gente fica logo preocupada achando que ele não está a fim... Ô coisinha complicada, rs! Me faz lembrar o episódio dos Simpsons em que a Lisa se apaixona pelo Nelson, e um dos amigos dele diz "Você beijou uma garota? Que gay!" (clipe aqui).

As perguntas finais do Harlyson são: "E por que ser vulnerável é entendido como coisa de mulher? E quem disse que sofrer é ser vulnerável?" Minha resposta para a primeira: séculos (milênios?) de patriarcado. Mesmo mulheres perfeitamente capazes de se virar sozinhas precisavam da tutela de um homem para serem respeitadas e/ou para terem um minímo de condições de vida (vide a história bíblica de Rute e Noemi). Em resumo, toda mulher era uma donzela em apuros...

Agora, não dá para negar que sofrer é sinônimo de vulnerabilidade. A pergunta que eu faria é: e quem disse que ser vulnerável é ruim?

sábado, 12 de junho de 2010

Fragmentos de um discurso amoroso (I)

Publicado pela primeira vez em 1977, Fragmentos de um Discurso Amoroso é um livro do francês Roland Barthes. Em 2009 (ou teria sido no final de 2008?), eu topei com uma cópia antiguinha num sebo, toda cheia de anotações, e resolvi levar. Já tinha lido um trecho (bem) pequeno das Mitologias (um dos títulos na minha lista quase infinita de livros que quero ler um dia), e me interessei pela forma como Barthes aborda o tema: ele adota um "método 'dramático'", em vez de falar dos enamorados, tenta dar voz a eles. Os momentos e temas das relações amorosas não aparecem cronologicamente, mas em ordem alfabética: o Abraço antes da Ausência, a Cena antes do Ciúme, a Ternura após o Exílio, e assim por diante. Como é Dia dos Namorados e eu não tenho nada melhor para fazer (ó céus, ó vida, ó azar! rs), seguem alguns dos meus fragmentos favoritos do livro.


Além da cópula (pro diabo, então, o Imaginário), há esse outro enlace que é o abraço imóvel: estamos encantados, enfeitiçados: estamos no sono, sem dormir; estamos na volúpia infantil do adormecer: […] é a volta à mãe […]. Nesse incesto reconduzido, tudo é então suspenso: o tempo, a lei, a proibição: nada cansa, nada se quer: todos os desejos são abolidos, porque parecem definitivamente transbordantes.
Entretanto, no meio desse abraço infantil, surge infalivelmente o genital; ele corta a sensualidade difusa do abraço incestuoso; a lógica do desejo se põe em movimento, retorna o querer possuir, o adulto se sobrepõe à criança. [p. 27-28]

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É adorável o que é adorável. Ou ainda: adoro você porque você é adorável, te amo porque te amo. Assim, o que fecha a linguagem amorosa é aquilo mesmo que a instituiu: a fascinação. Pois descrever a fascinação não pode nunca, no fim das contas, ultrapassar este enunciado: “estou fascinado”. [p. 32-33]

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Faço discretamente coisas loucas; sou a única testemunha da minha loucura. O que o amor descobre em mim, é a energia. Tudo que faço tem um sentido (posso então viver, sem me queixar), mas esse sentido é uma finalidade inatingível: é somente o sentido da minha força. [p. 36]
"Faço discretamente coisas loucas" é minha nova frase de status no MSN :-)

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(O horror de estragar é ainda mais forte que a angústia de perder). [p. 42]

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É a originalidade da relação que preciso conquistar. A maior parte das mágoas me vem do estereótipo: sou obrigado a me apaixonar, como todo mundo: ser ciumento, rejeitado, frustrado, como todo mundo. Mas, quando a relação é original, o estereótipo é abalado, ultrapassado, evacuado, e o ciúme, por exemplo, não tem mais espaço nessa relação sem lugar, sem topos, sem “topo” - sem discurso. [p. 51, grifo do autor]

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Historicamente, o discurso da ausência é sustentado pela Mulher: a Mulher é sedentária, o Homem é caçador, viajante; a Mulher é fiel (ela espera), o homem é conquistador (navega e aborda). […] De onde resulta que todo homem que fala a ausência do outro, feminino se declara: esse homem que espera e sofre, está milagrosamente feminizado. Um homem não é feminizado por ser invertido sexualmente, mas por estar apaixonado. [p. 53]

Deixo esta para os meninos que me lêem: faz sentido o que o Barthes fala? O homem apaixonado, que sofre a ausência da amada, se "feminiza"?

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Quando dois sujeitos brigam segundo uma troca ordenada de réplicas e tendo em vista obter a “última palavra”, esses dois sujeitos já estão casados: a cena é para eles o exercício de um direito, a prática de uma linguagem da qual eles são co-proprietários; um de cada vez, diz a cena, o que equivale a dizer nunca você, sem mim, e vice-versa. […] Os parceiros sabem que o confronto ao qual se entregam e que não os separará é tão inconseqüente quanto um gozo perverso (a cena seria uma maneira de se ter prazer sem o risco de fazer filhos). [p. 63]

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Ao chorar, quero impressionar alguém, pressioná-lo (“Veja o que você faz de mim”). Talvez seja – e geralmente é – o outro que se quer obrigar desse modo a assumir abertamente sua comiseração ou sua insensibilidade; mas talvez seja também eu mesmo: me faço chorar para me provar que minha dor não é uma ilusão: as lágrimas são signos e não expressões. Através das minhas lágrimas, conto uma história, produzo um mito da dor [p. 72]

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Como ciumento sofro quatro vezes: porque sou ciumento, porque me reprovo de sê-lo, porque temo que meu ciúme machuque o outro, porque me deixo dominar por uma banalidade: sofro por ser excluído, por ser agressivo, por ser louco e por ser comum. [p. 79]

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Que é que eu penso do amor? – Em suma, não penso nada. Bem que eu gostaria de saber o que é, mas estando do lado de dentro, eu o vejo em existência, não em essência. O que quero conhecer (o amor) é exatamente a matéria que uso para falar (o discurso amoroso). [p. 82]

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Quando o objeto amado ele mesmo se queixa do meu rival, o deprecia, não sei como replicar essa queixa: de um lado é “nobre” não me aproveitar de uma confidência que me serve – que parece “reforçar” meu lugar; e, por outro lado, sou prudente: sei que ocupo o mesmo ponto que meu concorrente e que, a partir daí, abolidos toda psicologia, todo valor, nada pode impedir que um dia eu também seja objeto de depreciação. [p. 89]

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Todo contacto, para o enamorado, coloca a questão da resposta: pede-se à pele que responda.
(Pressão de mãos – imenso dossiê romanesco –, gesto delicado no interior da palma, joelho que não se afasta, braço estendido, como por acaso, no braço de um sofá e sobre o qual a cabeça do outro vem pouco a pouco repousar, é a região paradisíaca dos signos sutis e clandestinos: como uma festa, não dos sentidos, mas do sentido). [p. 91]

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A cada instante do encontro, descubro no outro um outro eu-mesmo: Você gosta disso? Ah, eu também! Você não gosta disso? Nem eu! […] O Encontro faz com que o sujeito apaixonado (já capturado) sinta a vertigem de um acaso sobrenatural: o amor pertence à ordem (dionísica) do Lance de dados. [p. 128]

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Como termina um amor? – O quê? Termina? Em suma ninguém – exceto os outros – nunca sabe disso; uma espécie de inocência mascara o fim dessa coisa concebida, afirmada, vivida como se fosse eterna. O que quer que se torne objeto amado, quer ele desapareça ou passe à região da Amizade, de qualquer maneira, eu não o vejo nem mesmo se dissipar: o amor que termina se afasta para um outro mundo como uma nave espacial que deixa de piscar: o ser amado ressoava como um clamor, de repente ei-lo sem brilho (o outro nunca desaparece quando e como se esperava). Esse fenômeno resulta de uma imposição do discurso amoroso: eu mesmo (sujeito enamorado) não posso construir até o fim minha história de amor: sou o poeta (o recitante) apenas do começo; o final dessa história, assim como a minha própria morte, pertence aos outros; eles que escrevam o romance, narrativa exterior, mítica. [p. 130-131]

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Puxa, tinha esquecido quanta coisa interessante tem esse livro... O resto fica para um segundo post. Até a próxima! E não deixem de comentar, eu adoraria saber suas impressões.

Dos corais ao petróleo

Eu sei, é Dia dos Namorados e já começou a Copa do Mundo... Mas, enquanto casais se presenteiam e torcedores se esgoelam, cerca de 25 a 40 mil barris de petróleo continuam vazando diariamente no Golfo do México (o dobro das estimativas iniciais, segundo dados divulgados na última quinta), ameaçando manchar praias paradisíacas como as das Bahamas e colocando diversas espécies em risco. A Associated Press (AP) divulgou um vídeo com imagens submarinas da região, vale a pena conferir:


(via Videogum)

Agora só nos resta esperar que encontrem logo uma solução para esse vazamento, que os danos sejam reparados, e que os culpados sejam punidos.

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