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domingo, 28 de fevereiro de 2010

Diário de Viagem: Chapada Diamantina, parte 2

Depois de cinco dias fazendo turismo na Chapada Diamantina, chegou a hora de partir para Capim Grosso, cidade onde meu avô foi morar em 2007. A viagem foi tranquila, e só não foi mais rápida porque acabei pegando o ônibus "comercial" - código para o famigerado pinga-pinga, que apanha (e deixa) pessoas em qualquer lugar. Se fosse só no meio da estrada, tudo bem, mas algumas vezes as paradas aconteciam alguns poucos metros depois do ônibus sair de uma parada oficial, o que é bem irritante.

No dia seguinte à minha chegada, uma segunda-feira, nós (eu, meu avô, seu Manoel, a Rose, que está morando com ele - minha avó faleceu em 2008 - e os três filhos dela) partimos antes do sol nascer para Pindobaçu, onde moram alguns parentes. Ficamos na casa da D. Isaura, tia do meu avô. Conheci a prima dele, Maria, e o marido dela, o Bita. Esses dias no Pindobaçu foram maravilhosos: fui à feira e tomei caldo de cana com limão (além de ver galinhas prontas para o abate, um porco fatiado, e pedaços de boi expostos), visitei a Barragem do Pindobaçu, catei frutas no pé (seriguela, acerola, umbu, mangas - de mangueiras que estão lá desde antes de 1930!), debulhei feijão-de-corda, abri licuris (um coquinho delicioso), fiquei à toa na rede, e conversei sobre um pouco de tudo: sobre política, sobre Noé (essa história "meio mal contada"), sobre as estrelas, sobre a idade do planeta (será que são mesmo bilhões de anos?), sobre as viagens do meu avô e suas aventuras como boina azul do Batalhão de Suez, a primeira Força de Paz das Nações Unidas... Quatro dias inesquecíveis, bem diferentes da minha vida normal aqui no Rio.


Um visitante noturno no Pindobaçu

Na volta a Capim Grosso, passamos rapidamente por Jacobina, cidade onde meu avô nasceu. No final de semana seguinte, ele me levou para conhecer a roça onde está cultivando feijão-de-corda, mandioca, aipim, melancia... E, na casa dele, ainda provei a umbuzada, creme delicioso feito com o umbu verde. Infelizmente não posso compartilhar os sabores que provei (se bem que trouxe na mala uma garrafa de mel e sacos de feijão-de-corda e licuri torrado...), mas as fotos estão no Picasa. Divirtam-se!


domingo, 21 de fevereiro de 2010

Diário de Viagem: Chapada Diamantina, parte 1

Tirei férias na primeira quinzena de fevereiro e aproveitei para conhecer a Chapada Diamantina e visitar meu avô no interior da Bahia. Na verdade, o plano inicial era visitar meu avô e depois "esticar" na Chapada, mas problemas de comunicação (leia-se: falhas no sinal do celular) me fizeram inverter os planos. Assim, a viagem começou por Lençóis, cidade a cerca de seis horas de Salvador que é a "base" favorita da maioria dos visitantes da Chapada. É um lugar pequeno recheado de turistas e de estrangeiros que adotaram Lençóis como segunda (primeira?) casa. Um desses estrangeiros é o argentino dono do Hostel Chapada, onde fiquei hospedada. É um dos albergues mais simples que já visitei, mas o atendimento é bom, os preços são razoáveis (um pacote de 5 dias, incluindo diárias, passeios, passagens de ida e volta para Salvador e uma camiseta, sai por menos de R$700), e o café da manhã tem surpresas como geleia de tomate. Tudo isso com aquele clima de hostel: gente sem frescuras de todas as partes do mundo.


Morro do Camelo, um dos postais da Chapada, visto da BR-242

Cheguei a Lençóis por volta das 11:30 da noite de uma segunda-feira. Foi o tempo de me instalar no quarto, tomar um banho e dormir. No dia seguinte, parti para o primeiro passeio, num grupo formado por um bahiano, um argentino e um casal de manauaras. Começamos pela Gruta da Lapa Doce, em Iraquara, um salão amplo cheio de estalactites e estalagmites com formas curiosas. O momento mais emocionante é quando o guia apaga o lampião e ficamos um minuto inteiro na escuridão absoluta.

Depois da Lapa Doce, partimos para a Fazenda Pratinha, ainda em Iraquara. A visita à Gruta Pratinha, com um rio subterrâneo, não estava incluído no pacote. Como o cara do albergue tinha esquecido desse detalhe e me dito pra só levar o dinheiro do almoço, acabei não fazendo esse passeio. Mas deu para curtir a água geladinha e calma da lagoa Pratinha... Depois do almoço com pratos típicos (bode cozido, cortado de palma, godó de banana, etc), fomos visitar a Gruta Azul - espécie de prima pobre da Gruta do Lago Azul, em Bonito.

O ponto alto do dia estava chegando: a subida até o topo do Morro do Pai Inácio, de onde se tem uma das mais vistas mais fantásticas da Chapada Diamantina. O nome do morro vem de uma lenda sobre um escravo que se apaixonou pela esposa de seu senhor (mais não conto, pra não estragar a surpresa). Lá em cima, as pedras arredondadas me lembraram o fundo do mar - segundo os geólogos, toda a região já foi fundo de mar - e o som do vento me lembrou o som de ondas. Pra completar o quadro, orquídeas e outras flores... Uma maravilha.

Pra fechar bem o dia nada como um bom banho. Fomos ao Poço do Diabo, uma cachoeira no Rio Mucugêzinho. O nome também é da época da escravidão: segundo o guia, escravos fugidos eram amarrados a troncos, atirados na água do alto de um mirante (de onde, hoje, aventureiros fazem rapel) e deixados lá para morrer. Mas a estratégia foi descoberta, e alguns negros se escondiam nas pedras e desamarravam as vítimas quando os senhores iam embora. Às vezes, alguns dos sobreviventes voltavam às fazendas, deixando os senhores convencidos de que aquilo era obra do Diabo.


As águas escuras são típicas da Chapada Diamantina

Depois de um banho com direito a massagem revigorante na cachoeira, era hora de voltar para o hostel. À noite, vi o final da festa do Senhor dos Passos, padroeiro dos garimpeiros, e encontrei meus companheiros do dia para jantar. Ainda vimos duas bandas passarem (depois dessa e da festa julina em Bonito, no ano passado, acho que vou passar a dar preferência a visitar lugares onde estejam acontecendo festas típicas), antes de sentarmos num restaurante de tapiocas e crepes. O serviço foi lento, mas o meu beiju recheado de carne-seca e queijo coalho valeu a pena.

No segundo dia, voltei a encontrar o casal de Manaus, e uma mulher de Londrina que estava no mesmo quarto que eu se juntou ao grupo. O passeio começou com uma flutuação no Poço Azul, em Nova Redenção. O guia Israel, apaixonado pelo que faz, conta todos os detalhes sobre o poço - como os fósseis de preguiças gigantes encontrados no fundo -, tira fotos e dá dicas enquanto a gente se diverte. Estava nervosa com a ideia de mergulhar numa gruta, mas foi só entrar na água transparente, fria e tranquila pra relaxar e curtir.

Depois de quase meia hora no Poço, partimos para o almoço em Andaraí. De lá, fomos a Igatu (também conhecida como Xique-Xique de Igatu). O acesso é feito por uma antiga estrada de pedra, com alguns trechos que só deixam passar um carro. A cidade já foi um centro próspero do garimpo com milhares de habitantes (os números variam, tem quem diga 3 mil, outros 9, e até 15 mil). Após a proibição do garimpo, a cidade minguou e virou distrito de Andaraí. Hoje, segundo alguns, a população não chega a mil habitantes, e as ruínas das casas de pedra viraram atração turística. Uma verdadeira cidade-fantasma.

Pra fechar o dia, de novo partimos para um banho de rio. Dessa vez, a parada foi na Cachoeira da Donana, no Rio Paraguassu. Além da paisagem, o lugar vale a pena pela simpatia das pessoas que trabalham na Toca do Morcego, lojinha e restaurante simpático na estrada da Cachoeira. À noite, jantamos uma boa pizza (Lençóis tem um monte de restaurantes italianos) com música ao vivo.

O terceiro dia foi o mais cansativo de todos: encarei, junto com a mulher de Londrina, uma menina italiana e o recepcionista do hostel (que também é guia), uma trilha de 7 km até a Cachoeira do Sossego. A trilha, por pedras, montanhas e pelo leito do rio num cânion fantástico, é cansativa, mas a vista no caminho (que inclui remanescentes da época do garimpeiro) e o mergulho no final compensam.



Na volta, fizemos uma parada no Ribeirão do Meio, uma das atrações mais próximas de Lençóis. Um belo poço, pedras para lagartear ao sol, e um escorregador natural para os mais aventureiros. O lugar estava cheio de estrangeiros (como uma italiana que está literalmente curtindo o desemprego em Lençóis - segundo ela, é mais barato se manter lá do que na Itália), mas engraçado mesmo foi um menino de uns 10, 11 anos bem brasileiro que, depois de escorregar, gritou com sotaque baianês: "Essa miséria relou meu c*!" Mesmo assim, ele escorregou de novo umas duas ou três vezes :-)

Na caminhada de volta, paramos numa barraca/lanchonete que serve de ponto de apoio. Tomamos água-de-coco, conversamos um pouco com o barraqueiro, e vimos um pequeno diamante bruto. De volta à Lençóis, jantamos na casa de massas Maria Bonita, na Rua das Pedras, a mais movimentada da cidade. E cama, que o dia foi duro!

Na manhã do quarto dia, fiz um passeio pelas redondezas de Lençóis. Começamos pelo Serrano (nome dado ao Rio Lençóis antes de passar pela cidade), com diversos poços para banho. Com a falta de chuvas, os poços (ou "caldeirões") parecem isolados, mas na verdade são parte do rio. Bem perto dali fica o Salão de Areias, com pedras que se desfazem em areias de várias cores. A paisagem é quase lunar... Alguns minutos de caminhada levam à Cachoeirinha e, depois, à Cachoeira da Primavera, onde parei para curtir a ducha natural. Depois disso, fomos a um mirante de onde se vê toda a cidade. Pena que esqueci a câmera!

Voltamos ao Serrano, onde ficamos fazendo hora, mergulhando e tomando sol até a hora do almoço. Nesse meio tempo, dei um jeito de escorregar nas pedras lisas e machucar meu braço, nada de grave. Voltamos ao albergue, tomamos um banho e partimos para comer e rodar a cidade. Já com a câmera, aproveitei para tirar fotos de atrações como o Mercado Municipal (antigo ponto de comércio de escravos), a praça com o coreto, o prédio da Universidade Estadual de Feira de Santana... E o caminhão do Palhaço Plim-Plim, que chegou à cidade naquele dia:


Luciano Huck, se você estiver lendo isto: Dê uma chance ao palhaço!

Passei o resto da tarde na pracinha do coreto lendo William Blake. Depois de um tempo, apareceu um grupo de mulheres, provavelmente estudantes de pedagogia, ensaiando uma entrevista sobre conteúdos multidisciplinares na escola. Adoro essas oportunidades de bisbilhotar :-)

O meu pacote de passeios incluía uma visita à Cachoeira da Fumaça, a segunda maior queda d'água do país e uma das principais atrações da Chapada. Infelizmente, porém, a falta de chuvas fez a cachoeira secar, e eu troquei o passeio por uma visita à Serra das Paridas, meu destino no meu quinto e último dia em Lençóis.

A visita à Serra das Paridas, um sítio arqueológico descoberto graças a um incêndio, é um passeio exclusivo da agência Volta ao Parque (meus outros passeios foram pela Cirtur, parceira do Hostel Chapada, ou com o pessoal do próprio hostel). Não tenho o que reclamar da Cirtur, mas admito que, se eu voltar à Chapada, devo escolher a Volta ao Parque pelo clima e pela descontração dos guias (eram dois). Pra completar, o grupo, com três meninas de Campinas, um casal de São Paulo (acho) e três caras de Brasília que vão todo ano à Bahia para o Carnaval (de Lençóis a Salvador), foi o mais divertido que peguei nesses cinco dias de Chapada.

O passeio começa com um café da manhã na Fazenda Os Impossíveis, que é auto-sustentável. O "hit" são os beijus feitos na hora, com recheio à escolha, além dos sucos com sabores tão improváveis quanto maracujá com couve e mamão com limão (meu favorito, mistura certa de azedo e doce). Depois da comilança, hora de queimar as calorias numa caminhada longa e cansativa até a Cachoeira do Mosquito. Vocês já devem estar cansados de ouvir isto, mas é a pura verdade: a paisagem e a massagem que a água caindo faz nas suas costas fazem o sacrifício valer a pena.

Na volta, devoramos algumas mangas antes do almoço típico de fazenda. Depois, uma horinha para a siesta antes de partirmos para o Complexo Arqueológico Serra das Paridas. As paredes de pedra estão cheias de desenhos, ainda em processo de datação. Além das pinturas, a vista é de tirar o fôlego.

Na volta, passamos pelo vilarejo de Tanquinho, onde paramos para tomar suco de mangaba e comer sonhos de goiabada. Na minha última noite em Lençóis, saí para jantar com a mulher de Londrina e um casal que também era de lá (coincidências assim não são o máximo?) Fomos a um restaurante mexicano legítimo, e provei os melhores tacos e a guacamole mais apimentada da minha vida. A primeira parte da viagem estava chegando ao fim...

terça-feira, 21 de julho de 2009

Diário de Viagem: Bonito

No começo deste mês, participei do XXIII Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação (CBBD) em Bonito-MS. Foi meu primeiro congresso profissional desde que saí da faculdade - até então, eu só tinha participado de eventos específicos sobre informação em saúde promovidos pelo Ministério da Saúde ou pela Bireme. E, claro, eu não podia perder a oportunidade de fazer um pouco de turismo também :-).



O envento aconteceu no Centro de Convenções de Bonito, o da foto aí em cima. A melhor parte, para mim, foi (re)encontrar colegas que, como eu, faziam a transição dos encontros de estudantes (nossos queridos ENEBD's) para eventos mais "adultos". Por outro lado, senti falta de ter um trabalho pra apresentar - até tentei, mas faltou tempo pra pensar no começo deste ano. E o fato de ser a única responsável pelo andamento da biblioteca onde trabalho me atrapalhou na hora de escolher palestras e trabalhos para assistir. Quem cuida de tudo acaba não se especializando em nada... Mas, no geral, o Congresso teve apresentações interessantes, especialmente na área de acessibilidade. Fiquei especialmente impressionada com as iniciativas da Universidade Federal de Sergipe e da Biblioteca Pública do Espírito Santo.



Difícil falar de Bonito sem escapar dos trocadilhos infames: é um lugar que está à altura do nome. Os organizadores do CBBD levaram isso em conta e deixaram as manhãs relativamente livres: nada de apresentações de trabalho nem de palestras gerais, apenas alguns Workshops para públicos específicos. Assim, todo mundo teve tempo de aproveitar alguns dos passeios. Há opções para a maioria dos bolsos, os guias e motoristas são bem-preparados (e não tem aquela "esmolinha" no final, os preços são todos tabelados), a infra-estrutura vai de boa a ótima (um detalhe que me impressionou foram os banheiros, sempre limpos e bem-conservados - até nas atrações da Prefeitura). Vale a pena visitar Bonito!

No Balneário Municipal, minha primeira parada, nadei com os piraputangas (peixes-símbolo de Bonito), vi araras e outros bichos, tomei suco de guavira (é doce, mas não enjoativa). É um lugar bacana, mas não tem nada de extraordinário.

Meu segundo passeio foi descer de bote o Rio Formoso, um dos principais da região (outros incluem o Sucuri, o Rio da Prata, o Mimoso...). Descer as cascatinhas deu um frio na barriga, mas o que me molhou mesmo foram as guerrinhas de água entre os botes. Os remadores são os piores, mas teve um adolescente num outro bote que também fez um estrago. (sinal de velhice: reclamar de adolescentes...)

Terminado o CBBD, sobrou tempo para passeios mais longos. Mas a chuva que caiu a noite toda no último dia do Congresso foi um banho de água fria... Fiquei com medo de ter gasto dinheiro à toa quando troquei a passagem. Eu já tinha agendado a flutuação no Rio da Prata para o dia seguinte, que amanheceu nublado... O passeio estava marcado para as nove e meia, mas atrasou por falta de guia - e o dia continuava nublado. Mas a chuva parou, encontraram uma guia, e lá fomos nós (eu, dois casais, duas amigas viajando juntas e mais duas mulheres viajando sozinhas).

Flutuações (descer um rio usando máscara, snorkel e roupa de neoprene, para ver os peixes) são um dos passeios indispensáveis de Bonito. Escolhi a do Recanto Ecológico do Rio da Prata por já ter recebido o prêmio "Escolha do Leitor" do Guia 4 Rodas. E, de fato, eles não estavam errados... Para chegar à nascente, fizemos uma caminhada de uns 40 minutos por uma trilha limpa e bem-sinalizada (árvores típicas são assinaladas e há plaquinhas informativas sobre animais que circulam por ali). Mesmo com a chuva interminável do dia anterior e com o tempo nublado, a água da nascente continuou cristalina. Em 1h30 de flutuação, vi piraputangas, pacus, dourados (um deles passou bem na minha frente, lindo!), passei bem no meio de um cardume... Alguns pontos são bem rasos, o que me deixou inquieta: a sensação era de que eu ia deitar no fundo do rio. Um ponto tem uma corredeira - o grupo sai do rio neste trecho, mas volta logo antes de uma curva cheia de pedras que é a mais emocionante de se passar.

Não flutuamos no Rio da Prata propriamente dito porque, ao contrário da nascente, as águas estavam turvas. Mas a maior surpresa veio quando estávamos no transporte de volta para o receptivo, onde o almoço nos esperava... A guia estava conversando tranquilamente quando sua expressão mudou: lá longe, uma onça parda corria de volta pra mata! Ela era enorme, linda, e muito rápida. Se eu tivesse piscado, não teria visto (e, de fato, duas pessoas não viram...) A cereja no bolo foi saber que nossa guia esperou 15 anos por aquele momento. Claro que ficamos nos gabando do nosso pra todo mundo!

No dia seguinte, fomos (o grupo era praticamente o mesmo!) à Estância Mimosa, fazenda que se destaca pelas cachoeiras e pelo almoço farto e delicioso. Depois de comer e de passar um tempo à beira de um lago na companhia dos gansos, de uma garça e de um jacaré-do-papo-amarelo (mais assustador que a onça...), descemos a trilha para conhecer as cachoeiras. Como o lugar já tinha sido explorado por madeireiros, a mata ainda está em recuperação. Mesmo assim, há bastante coisa pra se ver, e as cachoeiras são lindas. Como o dia estava frio, só me animei a mergulhar na última que visitamos, a do Sinhozinho. Uma pedra estrategicamente localizada, bem abaixo da queda, é o ponto ideal para receber uma bela massagem nas costas... Voltamos pouco antes de escurecer, e ainda fizemos um lanche antes de ir. O guia foi no carro com a gente até a cidade, e foi aquela festa: piadas, histórias e até relatos sobre assombrações que vagam por Bonito guardando tesouros da época da Guerra do Paraguai - segundo a lenda, luzes e sonhos indicam os locais onde estão enterrados os tais tesouros para alguns poucos escolhidos.

Nesta noite, caminhando até a cidade sozinha para a janta, topei com mais uma surpresa: uma festa julina no meio da rua, promovida por uma escola da cidade. Me diverti com as quadrilhas (especialmente com as "damas" que eram cavalheiros, e vice-versa), comi pastel, tomei chocolate-quente... Voltei pro albergue pronta pra cair na cama.

Na manhã seguinte, finalmente visitei a Gruta do Lago Azul, cartão-postal principal de Bonito. A trilha é bem escorregadia, mas nada que impeça crianças e idosos de curtir o passeio. Os guias dão todos os detalhes: o mergulho é proibido para preservar uma espécie única de crustáceo que vive no lago; a melhor época para visitar é em dezembro-janeiro; o ideal é tirar fotos sem flash; no fundo do Lago foram encontradas ossadas de uma preguiça-gigante e de um tigre-de-dentes-de-sabre... Mas o que importa é que a Gruta é linda. Perto da Gruta do Lago Azul, mas menos disputadas, as Grutas de São Miguel também valem a visita.

À tarde, fiz arvorismo no Hotel Cabanas - pra chegar lá, andei de moto pela primeira vez. Encontrei uma outra bibliotecária por lá, e fomos muito zoadas pelos guias por sermos "cariocax" :-) A recepcionista do albergue tinha dito que o passeio do Hotel era o mais leve dos três arvorismos disponíveis, mas foi emoção suficiente para mim. A tirolesa é a melhor parte, e a vista é maravilhosa! Ainda tivemos um presente: dois tucanos passaram voando antes de irmos embora...

No último dia, optei por um passeio a cavalo no Parque Ecológico do Rio Formoso. Foi muito melhor do que eu esperava - o grupo era divertido, o guia era uma figura (ele ainda nos serviu tereré, um espécie de chimarrão gelado típico do MS), o cavalo era mansinho e o lugar, maravilhoso.

Bonito é, sem dúvida, um destino ecológico, não só pelas atrações. A cidade faz coleta seletiva, há tratamento de esgoto, as ruas são limpas e bem-conservadas. Dá pra ver que o dinheiro do turismo (e da agropecuária, que ainda é a principal fonte de renda do município) está sendo bem aplicado.

Para comer, a opção básica é peixe. A carne de jacaré é super-popular, aparece até em sanduíches e pastéis. Provei um prato com jacaré à dorê, uma delícia! Experimentei também picolés de frutas típicas (não lembro os nomes, mas uma era azedinha como cajá, e a outra, doce como leite condensado), geléia de azeitona, e um chocolate-quente com licor de guavira - nada muito forte, só o suficiente para espantar um pouco o frio.

Durante o Congresso, fiquei hospedada numa pousada no centro (Paraíso das Águas), o que é uma mão-na-roda - você não precisa de transporte nem caminhar muito para encontrar um lugar pra comer ou fazer compras. Por outro lado, a pousada fica bem em frente ao Taboa, único bar da cidade com música ao vivo depois das 23h. Não chegou a prejudicar meu sono, mas também não ajudou...

Depois, me transferi para o Albergue de Bonito. Estava com o pé atrás por causa das milhares de informações e recomendações que eles despejam na página - parecia mais um acampamento de igreja do que um albergue... Mas o lugar é agradável e bem cuidado, e encontrei pessoas bacanas do Brasil e do mundo - até da República Tcheca (e viva as aulinhas de inglês)!

Enfim, já escrevi à beça. Acho que esta foi a melhor viagem que fiz até hoje - com certeza foi a que mais proporcionou experiências novas! Mais fotos no Picasa:

segunda-feira, 9 de março de 2009

Diário de Viagem: Buenos Aires

Hola!



Aproveitei o Carnaval para fazer minha primeira viagem ao exterior: Buenos Aires, Argentina. Fui sozinha: comprei a passagem um mês antes (em cima da hora: os voos de sabádo e domingo já estavam lotados) e reservei um albergue indicado pelo Lonely Planet: Hostel Suites Palermo. Fica num bairro afastado do centro, o que dificultou algumas coisas, mas gostei do clima tranquilo do lugar. Os outros albergues que consultei eram mais festeiros, um deles até avisava: "Se você gosta de dormir cedo, NÃO escolha este hostel". Segui o conselho :-)

Tudo certo pra viagem, bateu o frio na barriga: que é que eu vou fazer sozinha num país estranho (uma nação inimiga, pelo menos no esporte) e sem falar a língua do lugar (entendo o espanhol, especialmente lendo, mas não falo nada além daquele portunhol bem furreca)? Relaxei um pouco no avião, até porque adoro voar, mas foi só sair da checagem da imigração no aeroporto pra voltar o medo.

Caí num daqueles golpes de taxistas logo de cara: o motorista me cobrou 178 pesos por uma viagem que, na volta, saiu por 90 - sim, quase o dobro! Boa parte dos meus pesos foi embora nessa transação... Mas me informei na recepção do albergue e descobri que poderia trocar meus dólares (na hora de fazer o câmbio, troquei uma parte em pesos pro táxi e o resto em dólares) num lugar perto.

Deixei a mala e a mochila no quarto (me impressionei com a bagunça que as outras meninas fizeram) e saí para comer alguma coisa. Andei algumas quadras até o café Tonno, onde comi uma pizza - veio meio queimada, mas os pepperones eram maravilhosos - e observei os locais. Um grupo de adolescentes deu lugar a um casal com três filhos, a primeira prova da alta taxa de natalidade argentina (segundo o Lonely Planet, a mais alta da América Latina). Tem criança para todos os lados em BA! A determinada altura os funcionários mudaram o canal da TV para assistir a Hombre al Agua, uma espécie de gincana só com provas aquáticas (lembrei das Olimpíadas do Faustão). Tentei assistir até o final, mas era looongoooo e o sono venceu. Na hora de pagar, segundo susto: o cartão de crédito não liberou a compra. Fiquei apavorada na hora. Agora, trocar os dólares parecia questão de vida ou morte...

Segundo dia: liguei o notebook antes de sair do albergue e, por via das dúvidas, paguei a fatura do cartão de crédito e chequei a liberação para uso no exterior do cartão. Depois fui procurar a tal casa de câmbio. Tomei um novo susto porque não a encontrei no lugar que me indicaram, mas segui em frente: estava na Av. Santa Fé, uma das principais de Buenos Aires, e achei que deveria ter algum lugar onde eu pudesse trocar o dinheiro por ali. Finalmente encontrei: problema n. 1 resolvido!

Almocei num restaurante simpático. Confesso que me decepcionei um pouco: todo mundo fala tanto das carnes argentinas que eu, carnívora assumida, estava com água na boca para provar. Só que, aparentemente, tempero não é o forte dos hermanos... Só comi carne sem sal lá, uma pena. Mas as papas fritas estavam deliciosas!

Passei o resto da tarde explorando Palermo, um bairro de classe-média alta, arborizado e com uma vida noturna agitada. Minha primeira parada foi o Zoo, onde aproveitei para testar o cartão de crédito. Compra autorizada! Finalmente tranquila, curti bastante o passeio: show de lobos marinhos, ursos, felinos, girafas, lhamas, elefantes... E muitos, muitos turistas, especialmente brasileiros: na fila, alimentando os animais (o próprio zoológico vende um preparado especial para isso), tirando fotos, passeando.

Conferi no guia da Folha de São Paulo (se você pretende ir a BA, recomendo muito esse guia: os mapas são valiosos e o tamanho é ideal pra levar na bolsa) o endereço da Persicco, uma das mais badaladas sorveterias portenhas. Tomei um cucurucho (casquinha) de dulce de leche casero. A primeira surpresa: a porção é extremamente generosa, praticamente o dobro do sorvete do lado de fora - enche os olhos e a boca, mas não é muito prático na hora de tomar. A segunda: o tal sorvete de doce de leite não é enjoativo! E a terceira: a casquinha tinha umas três ou quatro camadas, uma delícia. Nota 10 para o helado.

Finalizei a tarde numa das muitas praças de Buenos Aires, vendo casais, famílias e grupos de amigos jogados na grama, um carinha treinando malabares, crianças bricando (dois meninos na minha frente faziam mountain bike num buraco de uma quadra), cachorros (outra paixão portenha - vi vários "andadores" de cachorro segurando vários pelas correntes), gente jogando futebol ou bebendo mate, uma delícia. O sol só se põe pra lá das oito horas, e ao que parece eles aproveitam cada minuto antes que isso aconteça. Voltei para o albergue, não sem antes traçar uma omelete num restaurante.

O terceiro dia começou bem cedo, com um city tour. Saímos do parque onde se encontra a bela Floralis Generica e percorremos Palermo e os bairros mais centrais até a Plaza de Mayo, ponto de protesto famoso e onde fica a Casa Rosada. Depois, fomos a La Boca, lar da Bombonera (estádio do Boca Juniors, ex-time de Maradona - até estátua do Diego tem lá) e de Caminito, ruazinha famosa pelas fachadas coloridas e os artistas de rua - muito careiros, por sinal.

O tour me deixou em Puerto Madero, talvez o lugar mais charmoso que vi em BA (o páreo é difícil, Palermo e a Recoleta são maravilhosos). Caminhei até não poder mais pelo calçadão à beira do rio, almocei no restaurante Siga La Vaca - parilla estilo "coma-o-quanto-puder" - em uma ponta e fui até a Freddo, na outra ponta, (outra sorveteria chique) tomar um helado de framboesa. No meio do caminho, visitei a Fragata-Escola Sarmiento e morri de inveja dos estudantes da Universidade Católica de BA, que estudam num lugar daqueles. Será que tem Teologia lá? Ah, sim, Puerto Madero também estava lotado de brasileiros, no Siga La Vaca uma família estava especialmente barulhenta :-)

Caminhei até o centro e fiz um pit-stop no shopping Galerias Pacífico, que tem afrescos lindos no teto. Dali segui pela Calle Florida (espécie de Uruguaiana portenha) até o metrô, ou Subte - de subterrâneo, reparou? - e voltei para "casa". Naquela noite saí para o Tango Experience, evento promovido pela rede Hostel Suites. A aventura começa no Hostel Suites Florida (um dos albergues mais bacanas que já vi, e bem central - fica na Calle Florida) com uma taça de vinho e, pelo menos naquela ocasião, alguma música (tocada num violino por um barbudo gordinho de bermuda). Não me aventurei a tomar uma taça inteira, mas provei uns golinhos.

Do ponto de encontro saímos, apertados numa van, para uma aula de tango - não aquele de filme, com rosas e vestidos decotados, mas o tango das milongas, que gente de verdade dança. A professora era ótima, e o grupo estava bem descontraído (culpa do vinho, talvez?), o que deixou tudo mais divertido. De volta para a van, fomos para uma pizzaria, e aí o papo rolou solto. Brasileiros, claro: duas cariocas - eu e mais uma, chamada Janaína (a rainha da água doce encontra a rainha do mar) - e dois gaúchos, um francês que fala português, um italiano, um holandês, uma inglesa, um irlandês, um chileno... Uma verdadeira babel :-)

Pra fechar a noite, visitamos uma milonga. A ideia era testar os conhecimentos, mas poucos se aventuraram na pista de dança - eu entre eles, duas vezes! Pena que não tenho as fotos para comprovar, mas tive testemunhas. Dancei mal, lógico, mas quem liga? E pelo menos não pisei no pé dos meus pares, já considero uma vitória :-)

Quinta-feira, último dia inteiro em BA. Caminhei quadras e mais quadras na Av. Santa Fé, de Palermo até a Recoleta, para conhecer El Ateneo Grand Splendid, uma das livrarias mais bonitas do mundo. O prédio era um cine-teatro, e os novos donos fizeram intervenções mínimas para instalar a livraria, mantendo os balcões e o espaço do palco. Foi ali que almocei um belo (e insosso, nada que um salzinho não ajudasse) bife de chorizo.

Dali, caminhei mais um tanto até a Recoleta, onde visitei a Igreja de N.S. do Pilar (que tem um pequeno museu), o famoso Cemitério onde está enterrada Evita, e o Museu de Belas-Artes, com uma coleção invejável. Numa praça, um grupo ensaiava técnicas de circo - malabares, corda bamba, etc. Jantei por ali, e, no caminho até o subte, vi um legítimo panelaço contra a troca de mão de uma avenida.

Ufa! A sexta foi só para arrumar a mala, comprar uma lata de alfajor (devorados pela minha irmã em menos de uma semana) e ir ao aeroporto, lotado - tinha uma fila gigantesca pra passar pelos detectores de metal! E você ainda tem que pagar uma taxa pelo uso do espaço... De volta para casa! Agora, é planejar a próxima viagem...

Mais fotos e histórias no Flickr.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Enquanto este blog dormia...

Voltei! Mais de um mês sem um post decente, mas aqui estou. Foi um período agitado, com momentos tristes (perdi minha avó e uma amiga querida; deixei a igreja onde passei os últimos 10 anos da minha vida) e chatos (como a minha primeira nota vermelha - 3,5! - entre outros mais embaraçosos); mas outros tantos momentos muito legais.

No feriadão de 21 e 23 de abril, viajei para Minas com minhas milhas da Tam (fotos no Flickr). Foi maravilhoso! Passei uma tarde de sábado agradabilíssima em Belo Horizonte com meus amigos Roberto e Renato e suas respectivas caras-metades, Haline e Miriam. Visitamos o Museu, a Casa do Baile e a Igreja de São Francisco (todas obras do Niemeyer) na Lagoa da Pampulha, almoçamos uma tilápia à milanesa simplesmente deliciosa, fomos na Rua do Amendoim e na Praça do Papa, e ainda vimos a cidade de cima. De BH peguei o ônibus para Ouro Preto. Esqueci no Rio o endereço do Albergue, e foi um pouco assustador sair da Rodoviária e dar de cara com uma igreja fechada e um cemitério ladeando uma ladeira pouco iluminada. Mas o luar me animou, e o albergue era bem pertinho. No quarto conheci uma menina paulista, nos demos bem logo de cara. Acordei no domingo ao som de sinos, e fomos pra rua. Do dia 20 até o 23, andei muito por Ouro Preto, Mariana e Congonhas: visitei igrejas, museus (gostei mais do Museu do Oratório, são lindos os de concha), os 12 profetas e uma mina de ouro; tomei vaca-preta e comi panquecas; ouvi a música do Indiana Jones, Carinhoso, Escorregando (do Ernesto Nazareth) e Aquarela do Brasil na mesma praça onde a cabeça de Tiradentes ficou exposta; andei de Maria-Fumaça; vi o Thiago Lacerda (sério! no Museu da Inconfidência!); conversei com gente do Japão, da Holanda, do Canadá, de São Paulo, do Rio e até de Minas. Tenho que fazer mais essas coisas :-)

No feriadão de 1° de maio, fiquei no Rio mesmo, mas dei um pulo em Niterói na sexta para ouvir Baixo e Voz (Sergio e Marivone conseguem ser ainda melhores ao vivo!) e Sal da Terra (música nordestina pra louvar) - e, de quebra, a Banda Crombie (bela surpresa).

De quebra, minha casa ganhou um novo morador: um gato chamado Batatinha. E eu descobri que definitivamente não me dou bem com bichos :-)

E agora, estou de volta pra fazer este blog voltar a andar. Até breve!
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Now playing: Chico Buarque - Essa Moça Ta Diferente
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