No começo deste mês, participei do XXIII Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação (CBBD) em Bonito-MS. Foi meu primeiro congresso profissional desde que saí da faculdade - até então, eu só tinha participado de eventos específicos sobre informação em saúde promovidos pelo Ministério da Saúde ou pela Bireme. E, claro, eu não podia perder a oportunidade de fazer um pouco de turismo também :-).
O envento aconteceu no Centro de Convenções de Bonito, o da foto aí em cima. A melhor parte, para mim, foi (re)encontrar colegas que, como eu, faziam a transição dos encontros de estudantes (nossos queridos ENEBD's) para eventos mais "adultos". Por outro lado, senti falta de ter um trabalho pra apresentar - até tentei, mas faltou tempo pra pensar no começo deste ano. E o fato de ser a única responsável pelo andamento da biblioteca onde trabalho me atrapalhou na hora de escolher palestras e trabalhos para assistir. Quem cuida de tudo acaba não se especializando em nada... Mas, no geral, o Congresso teve apresentações interessantes, especialmente na área de acessibilidade. Fiquei especialmente impressionada com as iniciativas da Universidade Federal de Sergipe e da Biblioteca Pública do Espírito Santo.
Difícil falar de Bonito sem escapar dos trocadilhos infames: é um lugar que está à altura do nome. Os organizadores do CBBD levaram isso em conta e deixaram as manhãs relativamente livres: nada de apresentações de trabalho nem de palestras gerais, apenas alguns Workshops para públicos específicos. Assim, todo mundo teve tempo de aproveitar alguns dos passeios. Há opções para a maioria dos bolsos, os guias e motoristas são bem-preparados (e não tem aquela "esmolinha" no final, os preços são todos tabelados), a infra-estrutura vai de boa a ótima (um detalhe que me impressionou foram os banheiros, sempre limpos e bem-conservados - até nas atrações da Prefeitura). Vale a pena visitar Bonito!
No Balneário Municipal, minha primeira parada, nadei com os piraputangas (peixes-símbolo de Bonito), vi araras e outros bichos, tomei suco de guavira (é doce, mas não enjoativa). É um lugar bacana, mas não tem nada de extraordinário.
Meu segundo passeio foi descer de bote o Rio Formoso, um dos principais da região (outros incluem o Sucuri, o Rio da Prata, o Mimoso...). Descer as cascatinhas deu um frio na barriga, mas o que me molhou mesmo foram as guerrinhas de água entre os botes. Os remadores são os piores, mas teve um adolescente num outro bote que também fez um estrago. (sinal de velhice: reclamar de adolescentes...)
Terminado o CBBD, sobrou tempo para passeios mais longos. Mas a chuva que caiu a noite toda no último dia do Congresso foi um banho de água fria... Fiquei com medo de ter gasto dinheiro à toa quando troquei a passagem. Eu já tinha agendado a flutuação no Rio da Prata para o dia seguinte, que amanheceu nublado... O passeio estava marcado para as nove e meia, mas atrasou por falta de guia - e o dia continuava nublado. Mas a chuva parou, encontraram uma guia, e lá fomos nós (eu, dois casais, duas amigas viajando juntas e mais duas mulheres viajando sozinhas).
Flutuações (descer um rio usando máscara, snorkel e roupa de neoprene, para ver os peixes) são um dos passeios indispensáveis de Bonito. Escolhi a do Recanto Ecológico do Rio da Prata por já ter recebido o prêmio "Escolha do Leitor" do Guia 4 Rodas. E, de fato, eles não estavam errados... Para chegar à nascente, fizemos uma caminhada de uns 40 minutos por uma trilha limpa e bem-sinalizada (árvores típicas são assinaladas e há plaquinhas informativas sobre animais que circulam por ali). Mesmo com a chuva interminável do dia anterior e com o tempo nublado, a água da nascente continuou cristalina. Em 1h30 de flutuação, vi piraputangas, pacus, dourados (um deles passou bem na minha frente, lindo!), passei bem no meio de um cardume... Alguns pontos são bem rasos, o que me deixou inquieta: a sensação era de que eu ia deitar no fundo do rio. Um ponto tem uma corredeira - o grupo sai do rio neste trecho, mas volta logo antes de uma curva cheia de pedras que é a mais emocionante de se passar.
Não flutuamos no Rio da Prata propriamente dito porque, ao contrário da nascente, as águas estavam turvas. Mas a maior surpresa veio quando estávamos no transporte de volta para o receptivo, onde o almoço nos esperava... A guia estava conversando tranquilamente quando sua expressão mudou: lá longe, uma onça parda corria de volta pra mata! Ela era enorme, linda, e muito rápida. Se eu tivesse piscado, não teria visto (e, de fato, duas pessoas não viram...) A cereja no bolo foi saber que nossa guia esperou 15 anos por aquele momento. Claro que ficamos nos gabando do nosso pra todo mundo!
No dia seguinte, fomos (o grupo era praticamente o mesmo!) à Estância Mimosa, fazenda que se destaca pelas cachoeiras e pelo almoço farto e delicioso. Depois de comer e de passar um tempo à beira de um lago na companhia dos gansos, de uma garça e de um jacaré-do-papo-amarelo (mais assustador que a onça...), descemos a trilha para conhecer as cachoeiras. Como o lugar já tinha sido explorado por madeireiros, a mata ainda está em recuperação. Mesmo assim, há bastante coisa pra se ver, e as cachoeiras são lindas. Como o dia estava frio, só me animei a mergulhar na última que visitamos, a do Sinhozinho. Uma pedra estrategicamente localizada, bem abaixo da queda, é o ponto ideal para receber uma bela massagem nas costas... Voltamos pouco antes de escurecer, e ainda fizemos um lanche antes de ir. O guia foi no carro com a gente até a cidade, e foi aquela festa: piadas, histórias e até relatos sobre assombrações que vagam por Bonito guardando tesouros da época da Guerra do Paraguai - segundo a lenda, luzes e sonhos indicam os locais onde estão enterrados os tais tesouros para alguns poucos escolhidos.
Nesta noite, caminhando até a cidade sozinha para a janta, topei com mais uma surpresa: uma festa julina no meio da rua, promovida por uma escola da cidade. Me diverti com as quadrilhas (especialmente com as "damas" que eram cavalheiros, e vice-versa), comi pastel, tomei chocolate-quente... Voltei pro albergue pronta pra cair na cama.
Na manhã seguinte, finalmente visitei a Gruta do Lago Azul, cartão-postal principal de Bonito. A trilha é bem escorregadia, mas nada que impeça crianças e idosos de curtir o passeio. Os guias dão todos os detalhes: o mergulho é proibido para preservar uma espécie única de crustáceo que vive no lago; a melhor época para visitar é em dezembro-janeiro; o ideal é tirar fotos sem flash; no fundo do Lago foram encontradas ossadas de uma preguiça-gigante e de um tigre-de-dentes-de-sabre... Mas o que importa é que a Gruta é linda. Perto da Gruta do Lago Azul, mas menos disputadas, as Grutas de São Miguel também valem a visita.
À tarde, fiz arvorismo no Hotel Cabanas - pra chegar lá, andei de moto pela primeira vez. Encontrei uma outra bibliotecária por lá, e fomos muito zoadas pelos guias por sermos "cariocax" :-) A recepcionista do albergue tinha dito que o passeio do Hotel era o mais leve dos três arvorismos disponíveis, mas foi emoção suficiente para mim. A tirolesa é a melhor parte, e a vista é maravilhosa! Ainda tivemos um presente: dois tucanos passaram voando antes de irmos embora...
No último dia, optei por um passeio a cavalo no Parque Ecológico do Rio Formoso. Foi muito melhor do que eu esperava - o grupo era divertido, o guia era uma figura (ele ainda nos serviu tereré, um espécie de chimarrão gelado típico do MS), o cavalo era mansinho e o lugar, maravilhoso.
Bonito é, sem dúvida, um destino ecológico, não só pelas atrações. A cidade faz coleta seletiva, há tratamento de esgoto, as ruas são limpas e bem-conservadas. Dá pra ver que o dinheiro do turismo (e da agropecuária, que ainda é a principal fonte de renda do município) está sendo bem aplicado.
Para comer, a opção básica é peixe. A carne de jacaré é super-popular, aparece até em sanduíches e pastéis. Provei um prato com jacaré à dorê, uma delícia! Experimentei também picolés de frutas típicas (não lembro os nomes, mas uma era azedinha como cajá, e a outra, doce como leite condensado), geléia de azeitona, e um chocolate-quente com licor de guavira - nada muito forte, só o suficiente para espantar um pouco o frio.
Durante o Congresso, fiquei hospedada numa pousada no centro (Paraíso das Águas), o que é uma mão-na-roda - você não precisa de transporte nem caminhar muito para encontrar um lugar pra comer ou fazer compras. Por outro lado, a pousada fica bem em frente ao Taboa, único bar da cidade com música ao vivo depois das 23h. Não chegou a prejudicar meu sono, mas também não ajudou...
Depois, me transferi para o Albergue de Bonito. Estava com o pé atrás por causa das milhares de informações e recomendações que eles despejam na página - parecia mais um acampamento de igreja do que um albergue... Mas o lugar é agradável e bem cuidado, e encontrei pessoas bacanas do Brasil e do mundo - até da República Tcheca (e viva as aulinhas de inglês)!
Enfim, já escrevi à beça. Acho que esta foi a melhor viagem que fiz até hoje - com certeza foi a que mais proporcionou experiências novas! Mais fotos no Picasa:
librariana #01
-
eu tenho uma newsletter e tento intercalar versões só com conteúdo
“librariana”. Vou fazer um experimento de republicar aqui as postagens mais
antigas. Lá ...
Há um ano
Um comentário:
Gostei.
Até deu vontade de viajar mesmo pra lá. Mas, tem algum hotel? Albergue...nem pensar!
E, se reclamar de adolescentes é sinal de velhice, então sou velho desde os 14 anos...
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