segunda-feira, 24 de março de 2008

Segunda-feira de quê?

Estava pensando ontem, domingo de Páscoa, naqueles versos do Drummond: "o amor é isso que você está vendo: hoje beija, amanhã não beija, depois de amanhã é domingo e segunda-feira ninguém sabe o que será." O que isso tem a ver com a Páscoa? Bem, a sexta-feira é da Paixão, o sábado é de Aleluia, o domingo é da Ressurreição... Mas e a segunda-feira? Alguém sabe o que será?

Para os que não foram criados em igreja, e/ou só aparecem lá pra casamentos, sexta é feriado (oba!) e dia de comer peixe, e domingo é dia daquele belo almoço em família com direito a troca de chocolates. Já os que, como eu, são cristãos, aprenderam no catecismo ou na escola bíblica que Jesus morreu na sexta, que, por isso, é um dia de tristeza. Domingo é dia de alegria: ele ressuscitou, voltou à vida. Mas e segunda-feira?

A pergunta começou a martelar na minha cabeça justamente quando eu pensava numa mensagem pra esta Páscoa - já é um hábito meu mandar mensagens pros amigos mais chegados nessas grandes datas (Páscoa e Natal/Ano Novo), e eu estava chateada de não ter pensado em nada este ano. Mas lembrei do Drummond, e decidi escrever uma mensagem pós-Páscoa mesmo.

Pensando mais um pouco, lembrei destas palavras de Paulo: "Se é somente para esta vida que temos esperança em Cristo, somos, de todos os homens, os mais dignos de compaixão". (1ª Carta de Paulo aos coríntios, capítulo 15, versículo 19 - quem não tem Bíblia pode conferir online). Corinto ficava na Grécia, e quem estudou filosofia deve lembrar que alguns gregos achavam que o corpo era a prisão da alma. Pra quem pensava assim, era bem difícil entender a ressurreição. Por isso, Paulo dedicou o capítulo 15 de ICoríntios a esse tema, mostrando que se não há ressurreição, Cristo não ressuscitou, e se ele não ressuscitou, a nossa fé - ou seja, a fé cristã - é inútil (v. 12-17). Mas não é assim: Jesus ressuscitou, e abriu caminho pra gente: nós também, se cremos nele, vamos vencer a morte (v. 55-57).

É por isso que Paulo diz que, se a nossa fé em Cristo é só para esta vida, somos dignos de compaixão, de pena mesmo. Naquele tempo, ser cristão era dureza. Muitos morreram por causa dessa fé. Não teria mesmo propósito alguém se arriscar a virar almoço de leão no Coliseu por causa de um carinha legal que, coitado, morreu. Mas, se é verdade que aquele "carinha legal" venceu a morte, a coisa muda de figura; e foi por crerem nisso que tantos cristãos se recusaram a negar sua fé e morreram: eles confiavam que também venceriam a morte.

Ainda hoje perseguições desse tipo acontecem em alguns lugares pelo mundo, mas aqui na nossa pátria amada ser cristão é absolutamente normal. Eu, pelo menos, nunca me senti discriminada por ser cristã - mesmo quando deixei de ir ou saí mais cedo de alguns encontros dominicais porque tinha de ir à igreja. Mas a palavra de Paulo ainda vale: se a nossa fé em Deus se limita a pedir proteção pra andar de ônibus no Rio de Janeiro, ou àquela visita esporádica à missa ou ao culto, ou mesmo ao trabalho intenso na igreja, a nossa fé não serve pra muita coisa. Deus quer nos dar uma vida nova e bela, quer que a gente viva intensamente hoje sem esquecer o amanhã: "Siga por onde o seu coração mandar, até onde a sua vista alcançar; mas saiba que por todas essas coisas Deus o trará a julgamento" (Eclesiastes 11.10b - não é lindo esse texto?).

Cristãos ou não, cada um de nós acredita em alguma coisa (em Deus, no amor, em nós), e constrói a sua vida com base nessa fé. Tem dias que a gente separa pra lembrar dessas coisas em que acreditamos: datas como Páscoa e Natal, um aniversário, a virada do ano. Mas, no dia-a-dia, a gente "faz tudo sempre igual" (grande Chico Buarque...) e esquece dessa coisa maior que dá sentido ao que fazemos. Meu desejo é que, nesta segunda e pelas próximas, a gente consiga sempre lembrar da razão da nossa esperança.

Beijos, e boas Páscoas!

segunda-feira, 17 de março de 2008

Pra Páscoa (do ano que vem?)

Nota rápida: está no site Louvor Brasil, do Gustavo "K-fé" Frederico, uma sugestão de liturgia pascal elaborada por esta humilde blogueira... Sei que está em cima para este ano, mas pro ano que vem, quem sabe? Críticas e sugestões são bem-vindas!

A propósito, o Louvor Brasil merece ser mais prestigiado pelas mentes pensantes e criativas do cristianismo brasileiro: é uma página aberta a contribuições para o louvor e o culto comunitário, e tem espaço também para paródias e reflexão. Espero contribuir mais por lá.

domingo, 16 de março de 2008

Liberte seus livros!

Sábado, dia 15/03, participei do segundo encontro de um grupo de bookcrossers cariocas, na primeira Zona Oficial de BookCrossing do Rio de Janeiro. Foi muito divertido encontrar gente que gosta de livros tanto quanto ou mais do que eu (As fotos que tirei no encontro estão aqui).

O BookCrossing é um movimento que estimula as pessoas a "libertarem" seus livros, fazendo-os rodar o mundo. É só cadastrá-los no site, que dá um número de identificação para cada um (anote no livro, assim todo mundo pode acompanhar as andanças dele). Daí, é só escolher uma das muitas formas de liberação: organizar uma lista de amigos que lêem e passam para o próximo, mandá-lo como presente-surpresa para alguém, ou até mesmo deixá-lo "ao léu" em algum lugar. Para entender melhor, recomendo a FAQ ótima da Spiegel, do Rio Grande do Sul. Tem também a entrevista da Victoria-helena, crosser ativa de Sampa, na Rádio CBN.

As tais Zonas Oficiais ou Official BookCrossing Zones (OBCZ) são lugares em que um grupo de crossers deixa livros regularmente. São Paulo já tem uma, na Central das Artes, e a do Rio, criada por iniciativa da Criswolff, está no restaurante do Lunático Café e Cultura, pertinho do Jardim Botânico. O próximo encontro dos bookcrossers cariocas será em 12 de abril (a idéia é ter um todo 2° sábado do mês).

sábado, 15 de março de 2008

Senhora deles

Com a internet, ficou mais fácil acompanhar o que os nossos legisladores (e demais políticos) andam fazendo. Qualquer um pode receber por e-mail o boletim da Câmara, o resumo das leis aprovadas pelo Planalto, notícias de tribunais; ou até acompanhar o andamento de projetos na Câmara e no Senado (falta um serviço integrado das duas Casas, mas já quebra o galho). Uma dica valiosa para as eleições: antes de re-eleger alguém, procure saber o que ele fez no mandato anterior - dá pra verificar até as faltas!

Só se prepare para a avalanche de irrelevâncias na sua caixa postal... Mas vale a pena, de vez em quando surge uma proposta interessente. Ou, uma idéia como a do Projeto de Lei 2623/07, do ex-deputado Professor Victorio Galli: retirar de Nossa Senhora Aparecida o título de padroeira do Brasil - ela passaria a ser só a "padroeira dos brasileiros católicos apostólicos romanos". Detalhe interessante? O feriado continua... Será que cola?

quinta-feira, 13 de março de 2008

Estudo Sobre Oração, parte I: Por que orar?

Nestes primeiros meses de 2008, estou dirigindo um estudo sobre a oração na Escola Bíblica Dominical de minha igreja. A revista básica é Oração: o poder de intercessão da igreja, de Samuel Figueira. Além dela, adotei como referência o livro Oração: ela faz alguma diferença?, de Philip Yancey. Foi a partir dele que refletimos sobre aquela perguntinha fundamental: Por que precisamos orar? Engraçado que a revista coloca essa pergunta lá na terceira lição. Mas, convenhamos, se eu nem sei porque eu oro, porque vou me preocupar em, por exemplo, encontrar tempo pra isso? Perguntar “Por quê?” é sempre o começo de uma aventura e/ou de uma dor de cabeça. E como eu já aprendi no Castelo Rá-Tim-Bum, “'Porque sim' não é resposta” :-)

Entender porque oramos é mais difícil do que pode parecer. Claro, podemos ficar com a resposta simples: “Porque Deus nos manda orar”. É verdade, a Bíblia está cheia de mandamentos sobre oração: Jeremias 33.3 (o “ddd de Deus”), Mateus 7.7, Isaías 55.6... Mas essa resposta não esgota o assunto: quem já não pensou com seus botões algo parecido com esta simples pergunta: “Pera, se Deus sabe de todas as coisas, por que orar?” Quem não se perguntou, parafraseando o Romário: “Orar pra quê, se Deus já sabe o que fazer?” Se Ele soberanamente já decidiu o meu futuro, de que vai adiantar orar por aquela pessoa especial, pelo emprego, por saúde, ou mesmo pela salvação de um alguém querido?

Para compreender o porquê, temos que pensar primeiro no quê: o que é oração? Vem imediamente ao pensamento a resposta aprendida na infância ou na classe de doutrinas: “Orar é falar/conversar com Deus”. Essa simples resposta diz muita coisa. Falamos muito que precisamos cultivar um relacionamento com Deus, e eu não escolhi a palavra “cultivar” por acaso. Como as plantas, relacionamentos precisam ser regados, adubados, tratados. E nada alimenta melhor um relacionamento do que o diálogo. Amigos não são aqueles que se vêem todos os dias, são aqueles que se conhecem – e como posso ser conhecida, se não compartilho com o outro o que me alegra, o que me aflige, o que chateia, o que me entristece?

Já deu pra ver onde quero chegar: se oração é falar com Deus, então ela é o adubo do meu (do seu, do nosso) relacionamento com Ele. Ninguém questiona a importância do diálogo num casamento, ninguém deixa de desabafar com um amigo mesmo sabendo que a conversa não muda a realidade (o desabafo não vai fazer o chefe deixar de ser um chato de galochas). Então, por que ter crise com a oração?

Ainda não terminei o livro do Yancey, mas já deu para captar a idéia dele de que, para entender a utilidade/necessidade da oração, é preciso primeiro mudar o ponto de vista. Não oramos para mudar a vontade de Deus. Não oramos para contar a Ele aquilo que Ele já sabe. Oramos para estabelecer um relacionamento com Ele. E, nesse relacionamento, eu cresço - aliás, não é isso que acontece em qualquer relacionamento? Quando me abro sobre as minhas frustrações e medos, descubro que eles são menores do que eu imaginava. Quando peço pela salvação da minha irmã, percebo que Deus está ainda mais triste do que eu com esta situação. Quando penso no porque Ele me chamou para o Seminário num momento em que minha vida estava tão difícil, vejo Sua Providência e aprendo a descansar n'Ele - e de repente as coisas não estão mais tão ruins. Não oro mais para tentar mudar a vontade dele, mas para descobrir onde me encaixo nessa vontade. Oro para me conhecer e para conhecer Aquele que me criou – e que, de tanto me amar, me salvou. Pra resumir: oramos para ter intimidade com o Pai.

Eu e o Ensino

Sou professora de Escola Bíblica Dominical na minha igreja. Na verdade, gosto de pensar em mim como uma dirigente de estudos: alguém que não está lá para ensinar, mas para incentivar o debate, estimulando as pessoas a apresentarem aquilo que o Espírito mesmo já mostrou a elas, e, a partir daí, direcionar a discussão para tentar garantir que, ao final, os objetivos do estudo sejam alcançados. Acredito muito no princípio do sacerdócio universal de todos os crentes, e tento, da melhor forma, colocar esta fé na prática. Claro que enfrento problemas: estudantes desmotivados, tímidos, desinteressados (aqueles que nem vão à aula, sabe como é?), acostumados a ouvir. Mas resisto como posso à tentação de transformar a aula em mera transmissão de meus conhecimentos pessoais.

Essa abordagem mais livre, de dar voz a todos, tem outro problema (talvez o mais difícil de resolver): como cristãos, temos algumas crenças inegociáveis. Há verdades básicas, válidas para todos. Mas, no decorrer de nossa vida com Deus, temos experiências com Ele que não se repetem da mesma forma com outros. Como ouvi de um professor esta semana, Deus, conhecendo a nossa diversidade, se revela de formas diversas para cada um de nós. Mesmo as verdades fundamentais do cristianismo (e às vezes é tão difícil defini-las!) são experimentadas de formas diferentes por cada um. Onde está o limite entre o universal e o particular? Como ensinar sem cair na armadilha de transmitir experiências pessoais como sendo verdades gerais?

Dá para ver que Tiago tem toda razão quando alerta: “não vos torneis, muitos de vós, mestres.” Creio que ele falou por experiência própria, até porque ele se inclui na segunda parte do versículo (“havemos de receber maior juízo” - Tg 3.1). É uma tarefa difícil, às vezes ingrata - quando parece não dar resultado. Mas a satisfação que vem de cumprir o dom que me é dado pelo Espírito Santo é inigualável. A certeza de saber que é assim que Deus quer me usar, apesar de (e com todas as) minhas limitações, dá paz ao meu coração. E de tanto lidar com a Palavra no ensino, de tanto ler coisas me preparando para as aulas, cresceu a vontade de estudar mais – olha o Seminário aí, gente! - e de me atrever a escrever. É muita pretensão achar que eu tenha algo a dizer, mas é bom pra me exercitar ;-) Começo com alguns comentários (não chegam a ser lições) sobre o estudo atual da minha classe: Oração.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Parabéns (u-huu!)

Abrace um bibliotecário hoje!

Parabéns aos companheiros de mineração, sempre em busca da melhor informação para aqueles que são nossa razão de ser: os usuários.

Curiosidades do Dia:

domingo, 2 de março de 2008

Viva e Eficaz

"[O]s fiéis, e nomeadamente as pessoas cultas nas ciências sagradas ou profanas, querem saber o que Deus disse nas Sagradas Escrituras, e não tanto o que um fecundo orador ou escritor usando com destreza as palavras da Bíblia, é capaz de nos dizer. A palavra de Deus 'viva e eficaz, mais cortante que uma espada de dois gumes, penetrante até dividir alma e espírito, articulações e medulas, capaz de destrinçar pensamentos e sentimentos do coração' não precisa de artifícios e adaptações humanas para mover e abalar os corações; as Sagradas Páginas escritas sob a inspiração do Espírito de Deus são de per si ricas de sentido próprio; dotadas de força divina, são poderosas por si mesmas; ornadas de supremo esplendor por si mesmas brilham e resplandecem, se o intérprete com uma explicação fiel e completa sabe desentranhar todos os tesouros de sabedoria e prudência que nelas estão encerrados." (citação da Encíclica Divino Afflante Spiritu, sobre os estudos bíblicos)
Sabe quando você lê um texto que expressa exatamente aquelas idéias meio sem forma na sua cabeça? Tem até uma passagem interessante do George Orwell em 1984 sobre isso, vou resgatar e posto aqui depois. Eu só não imaginava ter um desses momentos lendo uma encíclica papal - muito menos uma assinada pelo Papa Pio XII, aquele acusado de fazer vista grossa para o Holocausto. Mas fui surpreendida pela citação aí em cima quando lia a Divino Afflante Spiritu, que, entre outras coisas, estimula o estudo científico das Escrituras, incluindo a análise dos manuscritos nas línguas originais.

Que vontade de estampar essa frase numa camiseta! Especialmente o trecho que diz que a Palavra "não precisa de artifícios e adaptações humanas para mover e abalar os corações" (tá, ia ter que ser uma camiseta bem grande...). Nós, protestantes/evangélicos orgulhosos do "Sola Scriptura", desprezamos o apego dos católicos à Tradição, mas muitas vezes caímos no erro de tentar dar uma ajudinha para a Bíblia. Não basta uma pregação com conteúdo bíblico, queremos um pregador carismático, dinâmico, quase um popstar.

Não estou dizendo que os pastores deveriam adotar o estilo paradão, se limitando a ler a Bíblia com voz clara e pausada, pra todo mundo entender. Eu também dormiria com uma pregação dessas :-) Só acho que, se a Bíblia parece não ser suficiente para atrair as pessoas, a falha não está na Bíblia...

sábado, 1 de março de 2008

Intervenção

"Been working for the church / While your life falls apart, / Singing hallelujah with the fear in your heart, / Every spark of friendship and love / Will die without a home." - Intervention, Arcade Fire
(Trabalhando pela igreja enquanto sua vida se despedaça, cantando aleluia com medo no coração; cada faísca de amizade e amor morrerá sem ter um lar.)
Ouvi essa música pela primeira vez hoje. Bela melodia, com um órgão maravilhoso - e a letra, vocês podem ver por esse trechinho, só colabora para o clima arrepiante da música.

Pior é saber que tem muita gente nas igrejas por aí trabalhando sem perceber que sua vida e sua família estão indo pelo ralo, investindo tempo e dinheiro sem ver resultado, ou simplesmente abrindo mão do tempo de descanso. A gente sabe que o homem não foi feito por causa do "sábado" - que, pelo menos a meu ver, era um dia reservado para não fazer nada - mas alguém ainda lembra que o sábado foi feito por causa do homem? Onde está o cristianismo simples que perdemos na instituição?

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Ouvindo: Arcade Fire - Intervention
via FoxyTunes

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