domingo, 20 de julho de 2008

Eu, marginal

Marginal é quem está à margem, quem fica na beiradinha, tendo à frente as águas e atrás de si a terra, as árvores. Quem não se joga de cabeça, mas também não se afasta de vez. Quem não vai além da arrebentação, mas também não quer ficar na areia, lagarteando ao sol - e fica ali, brincando na espuma do mar.
Já faz alguns verões que notei esse medo de entrar de vez na água, vencendo as ondas pra flutuar onde o mar é mais tranqüilo. Não foi sempre assim: quando era mais nova, passava horas além da arrebentação, boiando, nadando, mergulhando, pulando... Agora, fico na beira, esperando alguma onda mais forte para pelo menos molhar os cabelos. Prudência que vem com a idade, talvez...
Mas foi só recentemente que me caiu a ficha: não é só na praia que eu sou marginal, é na vida. Na maioria dos círculos a que pertenço, sinto que estou longe do centro, na margem, na tangente. Não importa se estou com amigos antigos, irmãos de fé, parentes ou colegas de trabalho, a impressão é a mesma: de repente me sinto distante, como se aqueles velhos conhecidos fossem estranhos, como se ninguém realmente me conhecesse, como se a minha presença ali não fizesse qualquer diferença.
É raro me envolver de fato com alguém, a ponto de sentir falta da pessoa. Imagino que devo parecer fria, mas não sou uma pedra de gelo. Só tenho dificuldade para expressar o que sinto. Com alguns poucos amigos mais íntimos, me abro, choro junto, abraço, beijo. Mando e-mails e torpedos, chego até a ligar (bem) de vez em quando. Mesmo com alguns nem tão íntimos, troco abraços e confidências ocasionais. Mas corto laços com alguma facilidade, e nem é por mal. Simplesmente não me lembro de entrar em contato, e quando lembro penso que é tarde demais, que a hora é imprópria, e o tempo vai passando.
Sim, sou marginal. Não sei se por medo, desinteresse, preguiça, timidez, ou por uma combinação de tudo isso, meus relacionamentos, com raras exceções, não se aprofundam muito. E mesmo nessas "raras exceções", fico com a sensação de que tudo é frágil, que aquela intimidade pode se desfazer a qualquer momento. Difícil é vencer este sentimento...

4 comentários:

Luiz Asp disse...

Zé Roela!

Unknown disse...

Hehehe, eu entendo perfeitamente. Eu também sou assim. ;)

Abraço!

Anônimo disse...

Eu entendo mesmo...
Mesmo assim, estamos aí... pra quando você quiser mergulhar... conte sempre comigo e com a turma de copa, pode ter certeza... você faz falta!!!

Abração,

Junior

Anônimo disse...

Caramba!!Esse texto poderia muito bem ter sido escrito por mim mas acho que nao conseuiria expressar tão bem esse sentimento "marginal".Acho que esse sentimento é as vezes necessário para nos situarmos com alguma "prudência" ou cautela mas não devemos deixar que essa sensação seja constante..Puxa!!Mas como é ruim se sentir assim..Sofro muito..Bjos..

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