domingo, 6 de julho de 2008

Sobre o Tempo

Um dos textos da Bíblia que mais me desafia ultimamente é a passagem sobre o tempo em Eclesiastes 3.1-8:

Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu:
há tempo de nascer e tempo de morrer;
tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou;
tempo de matar e tempo de curar;
tempo de derribar e tempo de edificar;
tempo de chorar e tempo de rir;
tempo de prantear e tempo de saltar de alegria;
tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar pedras;
tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar;
tempo de buscar e tempo de perder;
tempo de guardar e tempo de deitar fora;
tempo de rasgar e tempo de coser;
tempo de estar calado e tempo de falar;
tempo de amar e tempo de aborrecer;
tempo de guerra e tempo de paz.

Quando lembro deste texto, a primeira coisa que me passa na cabeça é: Se é verdade que há tempo para todo propósito, onde foi parar o meu? Por que as horas parecem escapar dos meus dedos, como água, e o que sobra parece insuficiente para matar a sede? Agora mesmo, neste domingo à noite, bate o desânimo de ir para a cama e encarar outra semana num trabalho que me dá poucas alegrias e muitas decepções... Outro final de semana passou, e sinto que não o aproveitei tanto quanto gostaria/poderia. E olha que até que curti este domingo: ouvi Leonardo Boff na Igreja Cristã de Ipanema, almocei e fui à feira hippie com duas amigas que não via há tempos. Mas ainda fica o gosto de quero mais, mesmo sem saber o que é esse "mais" que tanta falta me tem feito.

Releio o texto de Eclesiastes e percebo suas marcações: há tempo para amar, mas também para odiar; há tempo para nascer e também para morrer. No corre-corre cotidiano, tudo também é marcado: hora de acordar, hora de almoçar, hora de voltar pra casa. No entanto, me parece que há uma diferença entre estas "horas" e aqueles "tempos". Nossas horas são para serem cumpridas, os tempos do pregador são para serem vividos e pensados. As horas se impõem, os tempos se apresentam. E, se prestamos muita atenção às horas, acabamos perdendo de vista os tempos: perdemos a época de plantar, choramos quando deveríamos rir, deixamos passar a oportunidade de abraçar.

Até aqui falei do dia-a-dia. Mas o texto de Eclesiastes também me lembra dos "tempos" da nossa vida, com seus altos e baixos, suas pequenas alegrias e grandes tristezas (e vice-versa), seus contratempos e boas surpresas. Já não sou mais criança, já saí da adolescência, mas ainda não consigo pensar em mim como adulta - fico naquele limbo da juventude. Já tenho meu emprego, já pago minhas contas, sou plenamente responsável pelos meus atos. O que falta para passar daqui para lá? E outras mil perguntas surgem: até quando continuar neste emprego? O que vou fazer depois do seminário? Será que o casamento é pra mim? Será que Deus tem um plano detalhado para a minha vida, ou será que estou construindo esse caminho a cada dia, com as minhas escolhas?

Não tenho as respostas, mas vou continuar procurando. Afinal, ainda há tempo...

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Ouvindo: Bob Dylan - Father of Night
via FoxyTunes

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